domingo, 8 de novembro de 2009

Sacrifícios urbanos

Linha Vemelha do metrô, 19h30 da noite, sexta-feira. Não consigo parar de pensar no cansaço, nos desaforos e sapos engolidos no trabalho, no salário de merda, no fora que aquela vagabunda que eu tanto amo me deu ontem.Deus, como eu queria não sentir tanto a falta dela!Mas como sinto!
É... creio que é melhor parar de divagar e descer as escadas, afinal, se demorar chego mais tarde em casa. Aí algum filho-da-puta vai me assaltar e eu terei de me virar para tirar todos os documentos de novo, as pessoas em casa vão me chamar de imprudente e minha mãe vai voltar a me tratar como se eu tivesse 14 anos de novo. Bem que eu queria ainda ter essa idade.
Estou cansado! Cansado desse lugar lotado, cansado dessa merda de rotina, cansado de ficar reclamando mentalmente todo dia como agora.
Tudo que eu queria era algo que me fizesse não ter de levantar amanhã e cumprir aquelas obrigações domésticas ridículas. A, se eu fosse um cara mais inteligente, mais criativo... poderia bolar um meio mirabolante de subir na vida, de me tornar um desses engravatados ricos e poderosos que se levantam no horário que querem.
Sabe que a faixa amarela no chão da estação numa hora dessas parece até um marco de competição? ainda mais assim de perto...
"As pessoas que estavam na plataforma antes do ocorrido disseram que um rapaz de mochila, que deveria ter em torno de 25 anos, tomou impulso e se arremessou na frente do metrô. Uma das testemunhas jura ter visto um sorriso quase infantil no rosto do rapaz no momento do pulo, o que nos leva a deduzir uso de drogas. A linha vermelha sentido Corinthians-Itaquera ficou paralisada por quase 40 minutos atrasando a viagem de muitas pessoas na volta para casa."
E o comentário maior foi: Cacete! Que cara egoísta, se matar bem na hora do rush!

Trilha sonora: Chico Buarque-Construção

Voltando a postar, gente, hope you like it.

sábado, 27 de junho de 2009

psicopata apaixonada

eu te amo.
e você nem me dá bola...
não importa, eu ainda te amo do mesmo jeito.
mesmo que você seja idiota, prepotente, insensível, estúpido, asqueroso e sem um pingo de bom-senso. além de feio. é, eu sei disso tudo. bem demais, aliás. mas fazer o quê? amo e ponto.
por que você não diz alguma coisa? ah, é verdade, esqueci que te deixei amordaçado. mas é melhor assim, você não me interrompe.
sabe, eu sei que também não sou lá essas coisas. sei que você consegue arranjar fácil uma gostosa boa de cama.sabe-se lá como, mas você arranja. mas mesmo assim! eu não sou tão feia e gorda assim, sem contar que sou muito mais inteligente e culta que 90% das garotas que você conheceu ou ainda vai conhecer na vida. e ainda por cima, eu te amo e te suporto, coisa que eu duvido muito que você ache outra doida-varrida que possa dizer o mesmo.
porra! eu aturo tuas crises de mal-humor homérico, tuas bebedeiras infindáveis, tuas zilhões de histórias de putarias e tua personalidade intragável. e ainda cuido de você sempre que você precisa, ainda te procuro toda vez que você simplesmente se esquece de mim! quem mais, sinceramente, faria isso tudo por você? afinal, voce consegue ser mais bizarro, inconstante e um fracasso de ser humano do que eu!
ah, qual é... sem resmungos, ok? eu não quero discutir, por isso tive a precaução de te amordaçar e imobilizar. então não disperdice meus esforços sendo o mala ranzinza que você é.
sua conduta em relação á mim é totalmente inaceitável, sabia? ninguém que tivesse coragem de chamar a si mesmo de homem, agiria assim. você nunca deu valor à nada do que fiz por você. nem quando eu tentei ajudá-lo a reerguer-se e tornar-se alguém melhor nem quando eu simplesmente desisti e aceitei seus defeitos. como você ainda tem coragem de olhar-se no espelho todas as manhãs?
enfim, apesar dos pesares, eu te amo. e você definitivamente deveria sentir-se grato por isso. mas nããããão... muito pelo contrário! você resolveu simplesmente me apagar da sua vida e seguir em frente, apaixonando-se levianamente por outra qualquer, como se eu nunca tivesse existido, como se você não tivesse desfrutado da minha carne menos de duas semanas antes. infelizmente, para você, é claro; eu não vou aceitar isso tão facilmente, baby. quando eu terminar, você nunca mais vai poder fugir de mim.
mas eu queria entender por que você me deixou... será que agora você já entendeu a dádiva, o milagre que é o fato de eu ter aparecido na sua vida e querer permanecer nela? ah, faça-me o favor, eu estava disposta a CASAR com você, a GERAR O FILHO que voc~e tanto quis e você simplesmente me descarta, como uma camisinha usada? deffinitivamente, você não é tão inteligente quanto eu achava...
mas deixemos de divagações e voltemos ao que interessa. você nunca mais vai poder fugir de mim, sabe por quê? porque eu te amo tanto que vou perpetrar o maior ato de amor possível.
a propósito, você viu que lindas facas eu comprei? e esse cutelo então, não é genial? veja como brilham... não é legal? comprei especialmente por sua causa, para essa ocasião especial... você mesmo não faria melhor, admita.
ah, e tambem consegui emprestados quatro cães enormes, que estão para ser sacrificados por raiva. eles me parecem famintos... coitadinhos...
está vendo? mesmo contra a sua vontade, você vai acabar fazendo uma boa ação! tenho certeza de queeles ficarão felizes e te dividir comigo, antes de morrerem.
que hora para tocar o telefone, hein? fiquei quietinho, bem paradinho aí que eu já volto... hahaha, como se você pudesse não me obedecer nesse momento...
...
ah, era um convite para sair, mais tarde... como você já disse que não liga, aceitei... e você vai junto, então não tem problema... daqui por diante, você sempre vai estar comigo...
nossa, não é incrível como sua carne não resiste nem um pouquinho em ser cortada pelas minhas novas facas? acho que vou comer bife por umas boas duas semanas... ora, não se preocupe, eu vou congelá-los, você não vai apodrecer até lá...e eu sei que não sou muito fã de vísceras nem nada do gênero, mas sei coração eu faço questão de comer hoje, assim como o cérebro. e tirando isso e as pernas, que estou cortando agora, o restou eu dou aos adoráveis cãezinhos lá fora.
você nem imagina como foi fácil consegui-los, a gente encontra cada contato pela internet!
ei! não desmaia não! eu quero que você veja enquanto eu abro seu peito para tirar seu coração, quero que sinta a intensidade do meu amor por você... mas você não vai aguentar até lá, então...[barulho da silvertape sendo arrancada] um último beijo... nossa, o sangue está jorrando da sua boca... adeus, meu amor... logo você viverá em mim para sempre...



[escrevi esse conto há quase um mês atrás, mas estava com ciúmes dele e não queria postá-lo, mas enfim, aqui está, espero que gostem^^]

domingo, 14 de junho de 2009

207 [Parte 1 de 3]

Assim como cadáveres ressecados clamando ao imenso destino e tempo que desfizesse logo seus corpos podres e já sem vida, as árvores se curvavam para aquela ínfima estrada de terra por onde passava Abbey, como se estivesse a observar atentamente um novo programa de TV. De tão alta quer era a audiência e a imensa euforia dos seres, as folhas marrom-escuro chacoalhavam maniacamente no fraco vento daquele entardecer lacônico e perturbador.
Abbey voltava para casa após um longo e aparente interminável dia de trabalho. Como se a pilha de papéis e processos que outrora agrupavam-se na sua mesa, a sua frente, agora tivessem virado árvores. O contraste triste que a cor dos galhos e as folha e a terra faziam com o céu e a miúda iluminação dos postes era única. Como se fosse uma prisma que, pelos feixes distantes do sol transformava o ambiente numa chuva de decadência e solidão. Caminhava despercebido pela estrada de terra batida, deixando seus pensamentos ganharem vida e voarem desnorteados pelo céu sombrio.
Era um rapaz que, naquele local passaria despercebido, como que camuflado; Seus cabelos curtos, olhos e roupas negras misturadas ao corpo algo e esguio mais pareciam uma daquelas árvores mortificadas. Além da exaustão do serviço, não conseguia nunca tirar da cabeça todos os dissabores de seu cotidiano, fossem eles pequenos ou grandes. Todas as tristezas e angustias andavam em suas costas, curvando-o e o tornando-o submisso a todas as desavenças. Carregava também no fundo, bem no fundo, os sonhos e a felicidade nostálgicas. Nos momentos mais desagradáveis de sua vida, pensava nessas coisas mas, ao mesmo tempo que se sentia melhor, sentia-se pior ainda com a distância de tudo isso, de toda a sua utopia mumificada. O vazio preenchido pela beleza apodrece ainda mais a existência de Abbey. E não é o fato de tudo isso atacar-lhe impiedosamente e de forma traiçoeira que o magoa, mas sim o fato daqueles sentimentos especiais que guardara com tanto apreço deixarem-no ainda pior.
Praguejava em um tom bem audível enquanto caminhava, tanto pelo fato de seus pensamentos tomarem tanto de si mesmo que não conseguia mante-los em seu âmago como também por saber que não haveria ninguém para ouvi-lo. O som ecoava pelos desconhecidos recantos da escuridão e morte que o cercavam.
Enquanto andava, cada mais depressa, movido pela fúria contra si mesmo e a confusão dos sentimentos de outrora, sentiu uma vibração constante no bolso esquerdo de sua calça. Era inacreditável o fato do celular funcionar naquele lugar já esquecido e ainda mais estranho foi Abbey antende-lo. O celular para ele era semelhante a um enfeite que usava apenas para mostrar aos outros ou para fazer brilhar em algo sua excência, já que não o usava e detestava-o.
Retirou o celular negro, pequeno e retangular com algumas luzinhas piscando de seu bolso, abriu-o e o levou ao ouvido. Pressentia que não eram boas notícias.
-Alô? -Disse em voz desanimada, uma palavra enfadonha mas não pensara em nada melhor a dizer.
-Abbey? -Respondeu uma voz bem calma, feminina e sonora. Notava-se pequenos alterações nela como se, de súbito, começaria a gritar. -Finalmente atendeu. Você tem isso só de enfeite?
-Mais ou menos.
-Pois não deveria. -Como dito antes, já aumentando o tom da voz, passando do singelo agudo para o grave irritante. -Saiba que numa emergência esse celular pode vir a ser útil.
-Se for uma emergência de verdade -Replicou Abbey com voz calma e imperturbável enquanto prosseguia seu trajeto. - Chamariam a quem pudesse resolver e não a mim que não poderia fazer nada.
-E se for algo que aconteça a você?
-Bom, os jornais contaram as boas-novas.
-E se for algo urgente, algo que você necessite saber?
Abbey mudificou-se, mas logo mudou de assunto.
-Bom, que seja. Está é uma?
-Não que seja... Bom... Liguei porque deveria... Bem...
-Fale logo.
As árvores simbilavam com mais violência agora, derrubando suas folhas pela estrada como um prenúncio.
-Mas... bem... como posso dizer...
-Falando talvez, inventaram as palavras para isso.
-OK, senhor irritadinho. Recebi uma ligação hoje de manhã da Dona Valeria pedindo que fossemos logo a casa dela. Estranhei ela ter ligado pois... Bom, você sabe bem o porque. Mas não consegui remediar e lhe liguei imediatamente.
Abbey sentia agora seu coração bater violentamente, já passando as costelas, o peito e a camisa, em uma súbita alucinação podia até -lo. Toda aquela tristeza e confusão deram lugar a um inevitável e violento desespero, uma inaflingível angústia. Seguia olhando reto, mas não via a estrada. Não visualizava a estrada e não ouvia o que lhe dizia pelo telefone, apenas olhava as palavras tremulando a sua frente em diversos tipos de cores frias.
-Fala!
-CALMA... Bem, não sei como dizer-lhe mas... -Por um segundo o mundo parou, enturveceu-se. Não havia céu, chão, árvores, oxigênio... Nada - A Ashby morreu.
E o mundo acabou.

Mas ressurgiu subitamente.
-Abbey! Abbey! Responda! Fala alguma coisa -A voz calma estava agora desesperada, frenética.
Abbey se encontrava ajoelhado e fitando o chão, o celular continuava na orelha direita, mas era como se todas as palavras não fizessem mais sentido, como se fosse de alguma língua extraterrestre.
Mesmo que tentasse organizar seus pensamentos, seria em vão. O suor e as lágrimas escorriam avidamente pelo seu rosto, sem dar sinal algum de trégua. Era como se o dilacerassem. Quase debilmente voltou a si e conseguiu falar, como em um suspiro:
-Como aconteceu?
-Bem... ela se matou.
-Imaginava que isso aconteceria, quase que esperava, mas não posso...não podia... não, não queria crer.
-Olha.. Onde você está? Você está bem?
-Claro que estou! Não poderia estar melhor! Por que não? Ela somente foi a pessoa mais importante de minha vida. Alguém que eu realmente amei e que podia compartilhar tudo. A garota mais bela da cidade, do mundo que perdi por desgraças mútuas. Por que estaria mal?
-Eu só queria..
-Me ajudar? Me ajudaria muito mais trazendo-a de volta ou simplesmente de calando! -Sua intenção era de desligar mas antes que o pudesse, por impulso que ele mesmo desconhecia, jogou-o por entre as árvores e desapareceu no mesmo instante. Talvez tenha batido em uma rocha e se quebrado, não se sabe.
Era como um sonho, na verdade um pesadelo. O tempo passava de forma surreal e incompreensiva enquanto os passos pareciam estar já fora de órbita. Abbey caiu de bruços com as mãos na face e desabou a chorar incontrolávelmente. Assim, o vento a soprar, chorou junto.

Abbey acendeu um cigarro que tremia incansávelmente em seus dedos. Somente acender o isqueiro já fora complicado, pois suas respiração ofegante e desritmada apagava a fraca chama que reacendia-se novamente pelos seus dedos. Ao conseguir, tragou profundamente do cigarro, tentando engolir a fumaça como engolir a sua 'paz' que o havia deixado. Era como um redemoinho maldito e incontrolável de memórias. Flashes passavam insistentemente em sua cabeça a cada vez que via o rosto ilusório de Ashby no vendo. Tragava novamente. Já nem parecia mais expelir a fumaça.
Em seu âmago, havia um batalhão de sentimentos e memórias aturdindo por aquela morte quase previsível. A culpa por não ter feito algo enquanto era possível feria-o profundamente. O desejo de fazer novamente por um motivo ínfimo ou a vontade de tentar algo que fizera de forma errônea por orgulho ou um sentimento bobo, ardiam em seu coração revoltosamente.
Os sorrisos, o calor, as lágrimas, os abraços... Tudo de Ashby rebelavam-se instantaneamente e descontroladas em seu interior. Não podia classifica-las, mas podia dizer, honradamente, que ela fora a pessoa que mais amou em sua vida. Era como se, agora mesmo, já não a visse ou falasse-lhe por um longo, longo tempo. Somente a ausência dela o fez perceber o quanto sentia sua falta. Na separação e no prosseguir dos meses foi até suportável mas, se houvesse sentido o que sentia agora, certamente não haveria tanta magoa para ambos. E em sentimento de estupidez, corroia-se.
Seu corpo, por dentro, remoia-se incessantemente, como estraçalhado por um liquidificador sádico. mas seu exterior aparentava somente apenas as lágrimas, o andar descompassado e a aparência semi-morta. O cigarro quase queimava-lhe os dedos mas Abbey não sentia absolutamente nada fora de seu coração.
Acabou por ceder a cansaço. Inconscientemente caiu de joelhos, derrubando o cigarro e em movimento a cair de bruços no chão com as lágrimas por amortecer a queda. Caiu de rosto virado e sentia o chão umidecer-se lentamente, mas isso não o importunava, não tinha a menor relevância. Somente ela... Ela que já não existia mais. Cerrou seus olhos e sussurrou palavras inaudíveis até para ele mesmo. Voltara a notar o mundo exterior, mas aquilo não o gradava nem um pouco. Se um machado o decepasse, realizaria a sua maior felicidade. Mas era óbvio que isso não aconteceria e ele não encontrava forças para fazer nada contra si mesmo. Como se a densidade da gravidade houvesse aumentado, permanecia deitado deixando-se corroer , a esperar o pior.
-Por favor, não chore. -Ouviu uma voz delicada dizer.

(continua)





Bom, estive até que enrolando para postar ele mas a verdade é que está um tanto quanto complicado. Espero que gostem e leiam a continuação. Assim, entenderão também o porque do nome do conto.
Até daqui a alguns dias!

terça-feira, 9 de junho de 2009

THIS-IS

Se pusesse a cabeça para fora do quarto, pela janela, o único som que se poderia ouvir era o do vento gélido soprando pelos putrídos edifícios. Nenhum carro ou sirene aturdindo a noite em seus inesperados alardes. Somente o som do intocável e inexistente, tornando a noite mais graciosa e vazia.
Era completamente o oposto dentro daquele quarto. Enquanto fazia um frio imensurável, capaz de congelar alguns desprevenidos, a nossa solitária Melissa permanecia incendiada por alguns breves instantes. Não pelo calor de um confortável coberto, mas pela fricção insana de corpos.
De um lado, o mundo estava repleto até o pescoço de seus problemas diversos que vinham acontecendo diariamente e com as precupações das semanas que ainda estão por vir. As pessoas correm desesperadamente em busca de uma solução para problemas insolúveis e para pequenos detalhes que destas fazem uma tempestade em copo d'água. Ao mesmo tempo em que o mundo se denigre em sua mesmice, Melissa procurava refúgio do caos incessante e quaisquer tipo de diversões. O que lhes agrada é agora um motivo para comemorar. De outro lado, temos as responsabilidades e as desavenças de pensamentos e sentimentos.Uma dualidade cruel e maldita. Cada um dos seres fazem de cada instante um tormento aparentemente interminável e gastam suas vidas no triste redemoinho da loucura. Ou seja, ninguém quer aproveitar verdadeiramente os momentos de êxtase, seja ele físico ou sentimental, que vos é concebido, pois estão demasiados afogados em seu universo opressor.
Tendo tudo isso em nossa mente, faz mais do que sentido que Melissa não pertença a nosso planeta, pois não possui nenhuma das 'qualidades' já citadas. Pelo menos não nesse instante.
Cada leve tremor em suas pernas, o menor movimento em sua cama, a menor e profunda respiração ou qualquer toque em sua pele, preencheria-a de uma libido inexpressável. Podia-se perceber somente a medida de seu desejo com seu pequeno e delicado corpo contorcer-se em ínfimos espasmos e na sua profunda respiração que, devido a magnitude de seu prazer, já não mais respiração solta pelo nariz, e sim pela boca semi-marcada por mordidas feita por ela mesma, em um som suave quase mudo.
Com o passar das mãos pelo corpo de Melissa, ela já se encontrava em órbita. Nenhum dos conflitos existências, sociais ou pessoais de outrora poderiam afeta-la agora ou, pior que isso, traze-la de volta à realidade. Essa utopia realista era tão perfeita que todos teriam inveja por poder haver um ser humano capaz de desfrutar de tal deleite. Os lábios tocavam e beijavam seu delicado pescoço como prestes a acabar a mais extinta beleza ainda existente. Prosseguia mordiscando sua orelha como uma saborosa iguaria provada por um simples luxo. A respiração e os beijos apaixonados que voltavam-se constantemente após uma submersão indescritível, engrandecidos pelo calor somente sentido em tal situação, faziam crescer a atmosfera de fome, uma vontade voz de satisfazer tal desejo.
Melissa era gentilmente e demoradamente despida, como se cada instante tivesse de ser deliciado como o último do universo. Talvez o fosse para ela que, em sua órbita tão distante de nós, nada mais era, exceto, feixes luminosos piscando no ritmo de seu ofegar.
Com a parte do tronco já nu, pode sentir por pouco tempo um vento breve e refrescante penetrar pela janela a trazer-lhe um pouco de frio ao seu corpo incandescente. Frio esse que foi estinguindo-se com o calor corporal, tocando-a em forma de massagear seus seios. Mordendo-os e lambendo-os com uma sede controladamente voraz e apreciativa. Repetia a mesma ação como se pudesse ler os pensamentos de Melissa, a saber que aquela era uma das partes que mais ecitava-a. Arranhava seu corpo com certa intensidade, mas não com malevolência, uma brutalidade delicada. Suas unhas cravadas na carne era como um toque suavizados capaz de despertar os sentidos.
Descia lentamente, de ponto em ponto, pelo corpo de Melissa. Desabotoando sua calça jeans e sorvendo com a boca suas coxas, enquanto que ao tirar sua calça, permanecia a arranha-la.
Não eram necessárias palavras ou um dialogo longo, detalhado e reconfortador sobre seus mútuos sentimentos ou vontades. O corpo sempre fala por si, basta ouvi-lo com os poros.
A luz dos postes entrava despercebidamente pela janela com aparente intenção de iluminar o que deveria permanecer nas sombras. Mas o único ponto que podia atingir, limitadamente, era o corpo despido de Melissa, somente protegido por sua calcinha. Resplandecia e refletia ao alcançar a pele pálida inundada por gotas apraziadas de suor. Os olhos de Melissa continuavam fechados e a respiração veloz e continua.
Não demorou muito, apesar daqueles instantes magníficos parecerem horas, até que sua calcinha fosse, por fim, suavemente retirada de onde estava. O calor ali dentro retido e oculto fora lançado ao quarto com uma voracidade bestial. Como que se uma porta tivesse sido aberta, fora a de suas sensações. Agora tudo já estava pronto, ou quase tudo.
As mãos de seu amante retornaram a deslizar pelo seu corpo inteiro. Desciam e subiam majestosamente, seguidas por lábios e dentes capazes de tudo por prazer, como se aquilo o alimentasse, mesmo que para isso tivesse de arder no maior e mais tortuoso inferno. Por fim, os movimentos indicavam ir para baixo. Até que finalmente chegou. Mordeu e arranhou, seguidamente repetindo a sorver as coxas até que alcançou a vagina de Melissa. Bela e delicada como o resto inteiro de si. Os dedos deslizaram pela pele e alcançaram a carne, que se mostrava já úmida, acariciando cada trecho de sua totalidade. cada toque era seguido de um suspiro parecido ao de um gemido e belo tremular de seu corpo. Assim, gradativamente, os dedos penetraram-na e a estimularam dando um pequeno espaço aos lábios e a língua em movimentos, ora repetitivos, ora inconstantes. Ao mesmo tempo em que lambia com a ponta da língua os lábios da vulva, movia os dedos em movimentos de vai-e-vem. Os suspiros arquejantes de ardentes de anteriormente, deram lugar aos gemidos tão delicados que só se foram ouvir nesse instante. Som tão suave e angelical que nunca se cansaria de ouvir e, somente por ter oportunidade, escutaria para sempre. O corpo de Melissa começou a subir calmamente. O corpo do amante de Melissa tornou a subir lentamente. Ao mesmo tempo que arranhava as laterais de seu corpo, mordia e beijava sua bela barriga, subindo ao tórax e depois aos seios rijos e únicos, alcançando o pescoço e, finalmente, o rosto e os lábios. Um dos beijos mais longos e estimulantes que já se houvera. As constelações passavam por Melissa, o calor aumenta, os gemidos já eram incontroláveis e o corpo já cedia a cada toque, como de implorasse.
Ela já não controlava mais seus atos ou seus pensamentos, na verdade, já nem pensava em mais nada, somente queria, implorava, pedia. Isso tudo dentro de sua mente, vontade reclusa em seu âmago. Queria somente saciar aquela vontade delirante, aquela imensa sede. Enquanto sentia o corpo em chamas e atordoado a cada novo contato, segurou delicadamente, porem com prazer, o pênis. Prazer que demonstrava-se em seu ato e veio a traze-lo em sua vagina. Um convite irrecusável.
Com a ponta do pênis já a penetra-la, ela sentiu a dualidade da situação: De um lado havia seu desejo e necessidade e de outra havia o medo. Mas Melissa já se encontrava em tal estado que não titubeou muito em sua decisão, já se encontrava à frente da piscina, e somente lhe restava pular.
O membro fálico e consistente, repleto pelo calor e prazer iguais ao dela, entrou em Melissa. Não sem esforço, é claro, mas já estava tão provocada que não foi muito difícil o ápice chegar.
Dois corpos a dividir exatamente o mesmo espaço, a compartilhar o calor único daquelas entidades em busca de sua outra metade. Aproximando-se e afastando-se repetidamente um do outro. Deixando, assim, a chama do prazer crescer rapidamente em ambos, a ponto de aflorar de Melissa, como se aquele calor que sentisse fosse jorrar d seu corpo acalentado pelo prazer e pelo afago sexual de outrora. Como se aquele espaço no que se via agora, fracamente, pelas incessantes vibrações, a fosse sugar pela eternidade do momento. As luzes do poste tornava-se somente escuridão com as miúdas estrelas pairando pelo seu corpo cálido e inerte neste momento, distante de tudo e todos. Seus seios tremulavam vividamente, ritmado ao seu corpo. O suor brotava gloriosamente de seus poros e continuava a exalar os líquidos e feromônios de evidência de seu prazer. Já submersa em seus gemidos e gritos, sentiu-se fora de seu corpo.
Seu corpo parecia ser estendido suavemente e contorcido de todas as formas imagináveis. Aproveitava e se deleitava com quaisquer sensações, inerte no mais profundo êxtase, enquanto sentia-se passando por uma mutação indescritível. Que poderia-se singelamente tentar definir como o maior prazer físico. Sensação que depois Melissa veio a descobrir chamar-se orgasmo.
Gozou com toda a intensidade que restava naquele corpo , aprofundado no maior dos prazeres que o mundo precisaria, talvez.
As mãos continuavam a acaricia-la, indefinidamente pelo corpo inteiro. Agora somente passando uma mão pelo seus quadris e a outra a acaricia-lhe o cabelo. Era como se cada toque em seu corpo aumentasse ainda mais o que já era burlesco em questão de prazer.
Melissa não abrira os olhos em instante algum, continuava a flutuar em um universo distante e inacreditável, de ar rarefeito, de um clima extremamente árido e completamente sedutor. Como se cada molécula fosse estimulante. Mas aos poucos foi retornando...
Descendo, declinando...Voltando á realidade, tornando ao mundo, retornando ao normal. A utopia e a exaustão corporal pareciam não se desfazer nunca, junto com as mãos que agora não pareciam tanto querer seduzi-la, e sim acolhe-la. Melissa abriu os olhos lentamente, ainda atordoada e pôs-se a chorar. A melancolia mais intensa ao prazer e a solidão mais agonizante que uma criatura poderia sentir em tão situação. Passou um de seus dedos pela porta da vagina e fitou demoradamente o sangue em sua mão. Encolheu-se em posição fetal, ignorando o calor que sentia e desabou por completo de forma extremamente bipolar.
As mãos tremendo e suadas, tão familiares de alguns minutos atrás agora serviam para enxugar as lágrimas. Olhou ao redor em seu quarto, procurando a quem abraçar ou chorar ao peito, mas a mais absoluta solidão, uma escuridão crescente. Jogou o pênis de plástico no chão e prosseguiu em seu pranto.
A noite artificial e sentimental se fazia intensa. Não na rua, mas dentro de Melissa. A agonia de seu destino e atos a sodomizavam violentamente. Certo que o prazer não desaparecera, mas agora disputava fatalmente o lugar junto ao desespero.
A solidão crescia dentro daquele corpo auto-deflorado de forma tão natural a autonoma, as mão delicadas e hábeis cobriam seu corpo e sua imaginação que tanto a excitou e fe-la fantasiar alguém que agora não cuidará de seus sentimentos. Seu corpo cedia e seus sentimentos dançavam desordenadamente a valsa da loucura.
Frustrada, não lhe restava mais nada.
Deu um beijo suave no dedo indicados e o encostou na bochecha direita. Chorou até cair no sono na mais alta hora da madrugada.
Isso é o que resta. Isto é seu consolo. Isso é a sua vida. Essa é Melissa.
Onde morou a alegria. Permaneceu também a ilusão e a desgraça. Deixou somente um rastro de insignificância.











Em breve - Qualquer Oportunidade / 207 / Receita para uma perfeita decadência

E se eu finalmente pudesse voar?

Desde que dou por conta de mim mesmo, de minhas vontades excêntricas e desejos irrealizáveis, sempre se sobrepujou às outras a vontade de voar. Sei muito bem que não sou o único a querer uma coisa dessas e sei também que não serei o último. A muitos tempos idos, inventaram o avião, após ele ultra-leves e diversas alterações, mas com o único intuito de estar no meio das nuvens, distante do carrasco, absorto de seus crimes, livre de seus grilhões e, acima de tudo, indiferente a seus medos... Gradativamente mais próximo de algum Deus.
No começo somente via o fato de voar ou até mesmo flutuar como uma fuga. Seja fuga da realidade, dos problemas, das pessoas ou de tudo isso e muito mais ou de nenhuma delas. Mas conforme foram se passando os anos, comecei a ver tudo isso de uma forma simbólica somente, quase que angelical. Ter asas... tal qual anjos, pássaros ou demônios... E aquilo que me era uma vontade, transformou-se em uma obsessão até por fim tornar-se apenas um sonho inalcansável que via tremular em todas as minhas palavras e ambições. Chegava até a pensar que tinha realmente asas, mas não sabia como usa-las.
A cada dia que se passava, minha vontade de ter asas, de voar, de ser diferente, de alcanças meus sonhos e, assim, minha vida... A cada instante eu via tudo isso de uma forma ainda mais impossível, até mesmo surreal. Infelizmente, eu não era o único que pensava assim, cometi o terrível equivoco de contar a algumas pessoas minha vontade. Talvez somente quisesse partilhar um sentimento, mas o que pareceu foi que havia feito uma piada e recebido uma salva de vaias. Fato pelo qual, praticamente, abdiquei de meu único objetivo, de minha suprema obsessão.
Dessa forma passaram minutos, horas, dias, semanas, meses, trimestres,anos,décadas, até que quando eu praticamente já tinha jogado aquele sonho no "lixo reciclável de esperanças perdidas", algo me fez reaviver todas aquelas emoções. Não, eu não vi um corvo sobrevoando planícies grotescas de uma civilização distante. Também não presenciei uma galinha pegando impulso e tentando alçar vôo com suas curtas e deficientes asas mirradas. Tampouco fiquei a fitar um jato passar acima de minha cabeça. Eu simplesmente cai.
Estava debruçado em minha janela, fumando o terceiro cigarro consecutivo, colocando quase todo o peso de meu corpo para frente com o intuito de impedir a fumaça de entrar em meu quarto. Porem, de tanto inclinar-me, acabei por me desequilibrar e cair daquela janela.
Era uma queda um tanto quanto curta, cerca de 3 metros. Mas, enquanto caia, aquelas minhas divagações vieram a tona e a vontade de me libertar das algemas da crueldade e da realidade, da hipocrisia e da falta de fantasia e simplesmente planar no céu nublado me fez novamente uma criança perdida e desesperada que daria toda a sua vida de ventura por uma diversão momentânea. Entregaria um destino em troca de um sonho, de um outro universo, de uma outra visão. Mas meu desejo não tornou-se realidade e terminei por desabar no asfalto.
Assim, uma das poucas coisas que se sucederam foram a dor, a desilusão e a impotência por não conseguir me mover ou até mesmo pensar em algo mais racional.

~

-Tristes os sonhos não se tornarem realidade tão simplesmente, não é? -Disse uma voz feminina e suave acima de minha cabeça
Meu corpo doia intensamente, por completo, que somente o fato de pensar soltava um impulso frenético e latejante de dor, fazendo-me permanecer deitado de bruços. Porém, a curiosidade era tanta, que não podia me deixar vencer.
-Realmente... Não acho que seria injusto ocorrerem pequenas excessões. - Consegui murmurar com o rosto colado no chão, sentindo o gosto do sangue em meus lábios
-Seria. Pois se pode haver uma para você, deveria haver uma para todos.
-Segredos pequenos não matam, ninguém ficaria sabendo.
-Acho difícil. -Disse dando uma leve risada. -Aliás, acho impossível ninguém notar um ser humano voando por aí.
Meu coração gelou por completo naquele instante, como ela poderia saber isso de mim? Talvez ela me conhecesse muito bem ou simplesmente fosse uma telepata, mas acho que uma coisa dessas não existe. Com a respiração entrelaçada à surpresa e ao medo, cortada pela dor em meus pulmões, consegui dizer com certa dificuldade:
-Como sabe disso?
-Foi um mero palpite e, pelo visto, acertei.
-Mas... -Forcei pelo menos minha cabeça para -la. A curiosidade era muito maior comparada a dor que sentia. -... Por que dizes isso? -Movi minha cabeça e abri os olhos. Meu coração parou novamente e, dessa vez, achei que fosse a última. Minhas palavras e pensamentos desapareceram no vácuo. Se soubesse descrever ou, pelo menos, entender seria bem mais fácil expressar. Mas não me é possível, estava irremediavelmente apaixonado.
Era uma mulher de baixa estatura, cabelos longos e negros, olhos igualmente escuros e profundos, lábios perfeitos em um rosto puramente bem desenhado, mãos macias e uma voz simplesmente encantadora.Atraveria-me a dizer "viciante", assim como "tentadora" era o sinônimo de sua pele, não havia dúvida alguma que estava fitando como um idiota um anjo. Os instantes em que permaneci a olhando pareciam não terminar nunca e, na verdade, eu tinha até medo que ele se terminasse. Gostaria de ficar mais alguns longos instantes presos nos seus olhos. Até que ela falou:
-Você deve estar pensando agora no que eu sou ou o que estou fazendo e, pra falar vem a verdade, nem eu mesma sei direito. A única coisa que tenho consciência é que tens o mesmo desejo que o meu.
-Vo-Voar?
-Exatamente, e eu posso conceder-lhe essa opotunidade.
-Mas você mesma disse...
-Eu sei que disse que se abrisse uma excessão, um momento, para você, teria de da-la a todos. Mas não estou me referindo a uma simples oportunidade e sim uma decisão. Uma escolha que cabe somente a você.
-E qual seria essa escolha?
-Você realmente deseja voar?
-Claro que sim.
-Portando basta-lhe pagar um pequeno preço.
-E qual o preço dessa oportunidade?
-Sua vida.

~

Por alguns instantes, vieram-me em mente todos os instantes de minha infância e juventude e o que poderia acontecer no futuro, todos os sentimentos... Tendo em uma mão a possibilidade e em outra a utopia de uma vida inteira, saberia muito bem o que escolher. Mas aquele anjo em minha frente entrava... Invadia meus pensamentos, sei muito bem que que era a primeira vez que a via, mas não queria que fosse a última.
-Antes de eu lhe dar a resposta, diga-me quem é você?
-O seu sonho...
Não havia o que considerar e nem mesmo o que retrucar. Sabia o que isso significava e tinha certeza do que eu queria.
Foi o melhor dia da minha vida!
Em um instante, estava jogado no chão frente à uma pessoa que conseguiu abalar meus sentimentos de uma forma tão surreal e rápida, porem verdadeira, e no segundo seguinte estava atravessando as nuvens e o ar a seu lado.
Estava em meu paraíso, inerte em meu extase. Toda a minha vida parecia fazer sentido agora.
Gostaria que esse momento tivesse durado para sempre. Mas sei bem que "para sempre" é tempo demais. E, mesmo morto, guardo as lembranças de um sonho que se tornou realidade, de um dia perfeito, de uma vida e de um provável amor eterno.
Mas, não me arrependo. Ao menos fui feliz.
Obrigado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

o libertino e a prostituta (parte III de IV)

Louise... a pequena e adorada Louise...
filha única de um casal de filhos únicos, Louise valia mais que qualquer fortuna, para sua família.
seus pais era imigrantes de um país europeu qualquer, retrógrado, gélido e de palavras de 15 letras (dessas, apenas duas sendo vogais) . já eram insuportavelmente ricos em sua terra natal, e ainda multiplicaram suas riquezas absurdamente, depois de chegarem por essas bandas.
então, obviamente, deram à sua pequena jóia viva, a melhor lapidação possível, para que brilhasse ainda mais. (como se fosse necessário... Louise era tão bela, que até Vênus enrusbeceria de vergonha e inveja diante da pequena)
lhe colocaram nas melhores escolas, lhe deram os melhores professores particulares, as melhores roupas, as melhores comidas, as melhores roupas, as melhores companhias... mas não puderam salvaguardá-la de Lucas.
Louise não era o anjo que seus pais queriam que fosse, e desde seus 13 anos, fugia de casa para conhecer o mundo real que sua família lhe ocultava. foi numa dessas "escapadelas" que conheceu Lucas, quem colocaria sua vida e reputação à perder.
Lucas, com então, 18 anos, também tinha seus motivos para fugir e se esconder em lugares que o levariam à um caminho sem volta: os motivos eram a indiferença de sua mãe, e a incapacidade de sentir-se parte de qualquer coisa.
Louise ganhava facilmente a atenção de todos ao entrar em qualquer lugar, com seus longos cabelos cacheados e ruivos, seu corpo esguio e sensual, seus grandes olhos negros e infantis, e a pele perfeita, mas alva que a mais pura neve. Lucas, por outro lado, fazia o tipo de bad-boy parado num canto escuro dum bar, inalcançável e desinteressado por qualquer coisa além de sua própria bebida. ele nunca soube como conseguira atrair a atenção da flor do lugar.
a pequena, assim que o viu, tão isolado, quieto, desinteressado pelo mundo (e o mais pasmante, sem nem sequer notá-la), foi imediatamante sentar-se ao seu lado e tentar puxar papo.
de início, tudo em Louise causava repulsa à Lucas: seus lindos cabelos ruivos, seus grandes olhos negros, sua pele suave, a roupa de classe, a pose para beber e fumar, seu conhecimento elitista, sua grana infinita. ele, então, teve vontade de aniquilar tudo o que ela era, jogar aquela pérola no lodo em que ele vivia, para talvez então, se apaixonar por ela. mas ele só a amou quando já era tarde demais.
Louise, no começo por orgulho, e depois por pura submissão, passou a fugir de casa durante mais noites, beber mais, fumar mais, vender suas roupas de boneca para comprar roupas mais adequadas aos antros que frequentávam, mais bebida e mais drogas, dormir durante as aulas, ignorar os amigos que os pais escolheram tão minuciosamente para ela. depois de três anos, a família não a reconhecia mais, tanto Louise mudara, e em libertinagem, ela já superara de longe o mestre.
a menina não mais saía às escondidas, confrontava os pais e ainda obrigava-os a dar-lhe dinheiro para as insânias que lhe acalentassem naquela noite.
entretanto, continuava sem render-se aos desejos carnais dos muitos rapazes que a rodeavam. Lucas era o único que lhe importava, e era o único que nada queria com ela. todas as noites ele estava num leito diferente, com outras mulheres das quais desconhecia até o nome e que não reconheceria no dia seguinte, nem se esbarrasse com a companhia noturna apenas algumas horas depois.
Louise, com os anos que passou perto de Lucas, vendo-o simplesmente vagar em vez de viver, se deprimia, e em vez de desistir e desencantar-se do seu príncipe vagabundo, apenas o queria cada dia mais. até que, em seu aniversário de 17 anos, ela enfim ganhou o que tanto almejara ao longo de todo esse tempo. Lucas foi seu primeiro homem, e o destino quis que fosse seu último também.
a pequena engravidara, Lucas obrigara-a a abortar, e devido à operação ilegal e mal-executada, acabou desenvolvendo uma infecção generalizada, que culminou em sua morte.
a família dela, para a sorte de Lucas, ficou abalada demais com a perda de sua mais valiosa jóia que sequer se importaram em procurar quem a engravidara.
...
Lucas tomava mais um trago na garrafa de whisky barato, enquanto pensava em como destruíra uma vida por pouco se importar.


[enfim, a segunda e a terceira partes do conto... espero que gostem^^ até o fim do mês, escrevo a última^^]

sexta-feira, 29 de maio de 2009

o libertino e a prostituta (parte II de IV)

outra noite.
o jovem, de cabelos desgrenhados e fundas olheiras entra em um boteco, na região próxima ao porto, e à zona de baixo-meretrício da cidade.
o boteco tem cara de estar aberto há décadas, e pelo estado dos freqüentadores, parecia que os mesmos estavam lá desde a inauguração.
o balcão, de um azul desbotado, com eras de crostas de poluição e gordura acumuladas, tinha sobre si apenas uma pequena estufa, onde viam-se alguns salgados de aspecto repulsivo, e inúmeras moscas, indecisas se teriam coragem de se alimentar daquilo.
nas prateleiras atrás do dono mal-encarado, incontáveis garrafas de bebidas baratas, refletidas por um espelho escurecido pelo tempo. pareciam encarar quem se aventurasse à entrar lá, desafiando se teriam coragem de virar um trago ou dois daqueles venenos legalizados. e numa mesa ao fundo, os velhos decrépitos, que encaravam soturnamente o intruso, interrompendo momentaneamente seu jogo de dominó.
ele sentou-se sem olhar ao redor, num dos bancos giratórios diante do balcão, e pediu uma dose dupla de conhaque. tomou-a de uma só vez e pediu outra, a qual foi bebendo lentamente, enquanto fumava um cigarro amassado, tirado do bolso traseiro da calça jeans.
as horas se escoaram lentamente, assim como a bebida do copo de Lucas, e a noite foi avançando, cada mais fria, com a chuva e o vento açoitando quem fosse louco para enfrentar a noite.
por volta das 23 hrs, entra uma mulher. gorda, de maquiagem berrante, roupa escandalosa e justa, que apertava as dobras flácidas de seu corpo, expressão vulgar e cansada e um modo de andar requebrando que poderia ser classificado de qualquer coisa, exceto sexy. obviamente era uma prostituta pouco-requisitada que desistira de ficar na chuva, esperando por clientes que não apareceriam.
sentou-se no banco ao lado de Lucas, e pediu um copo da cachaça mais barata. tomou um gole, olhou ao redor, sem reparar a mancha de batom que ficara no copo, e bebeu mais um pouco. depois encarou fixamente para o rosto do jovem que bebia ao seu lado.
-hey, me dá um cigarro desses, garoto?
-toma.
-tem onde passar a noite, garoto?
-eu não vou pagar por sexo, velhota, muito menos com alguém tão escrota quanto você.
-eu não tou oferencendo meus serviços, moleque mal-educado. só dá para perceber claramente que já há alguns dias que você não dorme um sono decente, nem toma um banho. estou te oferecendo uma troca.
-eu não vou transar com você, já disse.
Lucas se levanta, irritado, e paga o dono do bar, ignorando a mulher que continuava a falar. sai noite afora, procurando com os olhos algum lugar coberto onde pudesse passar a noite.
-ei, garoto! espere! eu estou falando com você!
ele pára, e puxa a faca que guardava no bolso.
-já disse que não vou transar com você, velha infernal, e nem vou gastar meu dinheiro da bebida com alojamento com uma mulher porca e velha como você! se manda!
-eu não quero sexo, pirralho burro. eu só preciso conversar. você se parece muito com meu filho. eu até lhe dou o dinheiro que tenho, mas por favor, venha comigo!
Lucas abaixa a faca, atordoado.
-quanto você vai me dar, por essa "troca"?-diz, com voz ainda um tanto ressabiada.
-tenho só 60. mas você pode dormir tranquilamente no meu apartamento, e tomar um banho decente... também tenho algumas roupas do meu filho, certamente servirão em você. estamos de acordo?
-ok, você venceu. mas é só porque meu dinheiro está acabando. e se você tentar alguma gracinha...- e mostra a faca novamente.
-eu não tentarei, não é porque sou puta que não tenho caráter.
...
a velha prostituta morava num barraco que outrora podia ser chamado de prédio.
as escadas, escuras, tinham o chão escorregadio, de tão gasto; e a pintura da parede descascava, mostrando várias gerações de pinturas diferentes.
os corredores eram estreitos, e cheiravam fortemente a urina e mofo.
pararam diante de uma porte onde a sombra de um 19 ainda persistia, mesmo que os números já não estivessem lá há muito.
a mulher gorda revirou a pequena bolsa demodê, e logo encontrou as chaves, com as quais abriu a porta com uma rapidez assombrosa considerando a escuridão que reinava.
entraram, e ela logo acendeu a luz, mostrando um cenário tão desolado quanto o resto do prédio.
era um quarto, com apenas um armário de portas semi-abertas, empenadas; uma mesa apoiada em uma velha bíblia, ladeada por duas cadeiras em estado tão deplorável quanto todo o resto; uma cama de metal com um fino colchão sobre ela; as paredes descascadas de várias cores, ainda tingidas pela umidade e uma porta meio rachada que dava para um banheiro minúsculo de azuleijos outrora brancos, agora amarelados pelo tempo e pelo evidente desleixo na limpeza.
-sente-se. volto logo.
Lucas sentou-se numa das cadeiras e acendeu mais um cigarro. pensava onde estava com a cabeça para acompanhar aquela velha, que sequer conhecia, e que talvez tivesse que espancá-la muito para conseguir ganhar sua liberdade novamente. mas logo pensou que nada mais tinha à perder, e então relaxou um pouco.
a mulher voltou, vestida com calças e blusa de moleton, e sem aquela maquiagem bizarra. parecia ainda mais velha e miserável.
-tome, seus 60 ..., estão um tanto amassados, mas valem tanto quanto quaisquer outros.
-obrigado.
-tenho uma garrafa de vinho barato, e umas duas de whisky nacional. espero que sirvam.
-claro.
ela levanta-se, abre uma das portas e pega a uma das garrafas de whisky e dois copos.
-acho que não fica bem beber no gargalo com uma prostituta, né?- e dá uma risadinha amarga.
abre a garrafa e serve nos dois copos. e então começa a contar sua história.
a mais amarga e comum das histórias.
aquele tipo de história que magoa ouvir, tanto quanto magoa contar.
aquele tipo de história que marca, e machuca, mostrando-nos como somos impotentes diante das desgraças do dia-a-dia.
a primeira garrafa de whisky se esgotou como se nunca houvesse existido, e uma segunda e uma terceira se seguiram à ela.
e Agnes, que era o nome da velha prostituta, continuava sempre a contar, a contar e a contar...
...
a história que Agnes lhe contara, atingira Lucas como uma punhalada no peito.
era espancada como menina, era espancada pelo homem à quem se entregara, depois abandonada grávida, num estado tão lástimável que quase perdera o bebê.
trabalhara em dois a três empregos para dar o que não tivera ao seu filho, o primeiro amor verdadeiro que tivera em sua vida.
e então perder tal amor para as drogas.
tentara morrer algumas vezes, e falhara em todas.
fora internada em hospitais psiquiátricos que deixariam muitos filmes de terror com vergonha.
e então, já velha (pelo menos em aparência, tinha menos de 50 anos), entregara-se à prostituição, por não ter mais forças nem motivo para batalhar por um emprego decente.
e aquela história, tão amarga e comum, o fez pensar em tudo que ele também passara, e nas vidas que destruíra pelo caminho...
...
e o whisky continuava a se esvair, como se nunca tivesse existido.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

pequenos contos trágicos

bom, esse post vai ser para resgatar meus microcontos do antigo fotolog... espero que gostem^^




1-
sabe quando você está embaixo d'água, nadando de olhos abertos, vendo as coisas sob um prisma diferente? as coisas parecem muito naturais nesse caso, não é? e é agradável ver o mundo de uma forma diferente da que você se acostumou a ver...

certa vez, a garota estava nadando. a terra firme ainda lhe atraía, com suas belezas, mas ela já estava cansada, pois em terra firme que lhe ocorriam todos os sofrimentos. enquanto nadava, ficava completamente maravilhada com aquele mundo novo, tão belo e tão sereno, que parecia que jamais a feriria. ela se sentia unificada com a água e toda a paisagem, como se tudo que ela procurara até então houvesse finalmente surgido diante de si.

então, como se guiada por um a luz divina, ela teve uma idéia: já que o mundo ao ar livre me fere tanto, fico no submerso e alcanço minha felicidade. então prendeu seus pés numa formação rochosa para não voltar para a superfície e esperou até se unir completamente com o oceano.

o ar começou à rarear, mas ela achou que era apenas questão de tempo até que pudesse respirar como um peixe, afinal o mar não queria que ela sofresse.

mais e mais o ar lhe faltava, e ela começava à sentir-se fraca e tonta, mas mantinha-se firme em seu propósito. 'a água não pode me ferir, a água não pode me ferir, a água não quer me ferir!' - pensava ela... pobre garota...

semanas depois foi encontrado seu corpo boiando em alto-mar, carcomido pelos peixes...


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2-o rouxinol queria amar, mas não lhe era permitido.
tinha alguém em vista, já podia até sentir o afeto invadindo-lhe sorrateiramente o coração, mas não podia amar quem desejava.
era uma pequena flor, um tanto descorada por conta das tempestades e do tempo, cheia de espinhos venenosos, mas ainda assim, bela.
o rouxinol ainda cantava, mesmo alquebrado e com as asas feridas. cantava somente para sentir-se vivo, e mais tarde, para que aquela flor pudesse ouví-lo, mesmo que ele não pudesse amá-la.
certo dia, um viajante, ao ver as lágrimas tristes do rouxinol, perguntou-lhe por que lhe era proibido amar, e o rouxinol lhe respondeu: já há outro de minha espécie junto à mim, e esse outro ama-me. não posso ferí-lo, como já o fiz à mim. vê minhas chagas? como poderia eu desejá-las à outrém? além do mais, há outro motivo. vê aquela flor que eu gostaria de amar? vê que ela é tão triste quanto eu, e tão maltratada pelo mundo?ambos estamos tristes demais, já passamos por coisas demais para que me fosse permitido amá-la. se o tempo não houvesse passado, e ainda fossemos puros, eu poderia amá-la, com um amor tão perfeito como aqueles de livros antigos... mas é tarde demais, e à mim só resta observá-la murchar e murchar também, ao lado de quem me ama.
então o viajante calou-se, por ver que não havia mais resposta para o pobre rouxinol, e decidiu ir procurar seu amor enquanto o tempo e o mundo não haviam-lhe tornado tão infeliz e ferido...

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3-tinha um arco-íris do outro lado da rua...
tinham gotas de chuva...
e tinha uma menininha...
ela brincava com as gotas de chuva, e em seu rosto o reflexo sem cor do arco-íris, pois ela sorria...
e ela foi até o arco-íris e começou a escala-lo... sempre mais e mais alto ela ia, e mais e mais longe de tudo que conhecera até então... e ela escorregou pelo arco-íris e chegou à um lindo lugar onde tudo era feito de cristal multicolor... mas ela escorregou, bateu a cabeça em um cristal e morreu, sujando para sempre de sangue aquele lugar perfeito...

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4-a noite caiu, fria e escura sobre a cidade poluída e insensível.
os vapores do álcool subiam para a mente, como a névoa azulada de um cigarro.
a menina perdida sentia-se mal, por tudo que já fizera, e por sentir-se tão só em meio à multidão...
era tola e fazia coisas das quais não gostava, então por que fazia? era algo que nem ela entendia... mas aquele colosso de pecados e erros passados a perseguia e assombrava...
ela não merecia as doces horas que passava naquele bosque de sakuras, mas pereceria se não tivesse aquele refúgio...
e então ela chegou ao bosque, e adormeceu, certa de sua segurança, e não tornou a acordar jamais.

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5- e então a chuva caiu, generosa, sobre aqueles campos outrora verdejantes, que já ganhavam tons dourados, pela longa seca que os castigara.
caía suave e simultaneamente impetuosa, dando seu brilho de cristal à tudo que tocava.
e em meio ao campo, aqueles dois corpos, unidos por um abraço cálido, beijando-se sob a tormenta...
os corpos umidos e quentes enlaçados, água escorrendo por suas carnes jovens e apaixonadas, o lirísmo de toda aquela cena...
foi mais ou menos aí que caiu um raio, e como na campina eles eram o ponto mais alto, o raio foi atraído por eles e eles foram fritos...
não houve velório e os caixões foram selados...não era uma bela coisa de se ver...

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6-
o urso entrou na casa...
aquele cheiro de lar, de comida quentinha, de carinho familiar o irritava
então ele começou a quebrar tudo...
e como aqueles móveis e aqueles vidros e cristais pareciam ínfimos e insignificantes ante sua ira e força!
e ele quebrou, e quebrou, até que sua ira estivesse satisfeita.
...
mas então chegou a família.
o pai, um caçador de renome por aquelas bandas.
a mãe, uma descendente da aristocracia do lugar, rica fútil e "fresca".
a criança, uma menininha estúpida como os pais, rosada e roliça... daria um ótimo petisco, se bem assada e acompanhada por um bom vinho do Porto...
... e a ira do urso retornou com força, uma força que ele sequer sabia existir.
e ele dilacerou primeiro a face horrorizada da mãe, coberta de pó de arroz e perfumes franceses, conservando para sempre as mandíbulas abertas, ilustrando seu pasmo.
depois ele fatiou com suas garras afiadas, a carne macia e rósea da criancinha mimada.
o pai, consternado, tentou atirar no urso, mas não atingiu nem o coração, nem a face.
então o urso arrancou seu crânio com uma só patada.
depois jogou os corpos no rio, onde os crocodilos devoraram o banquete, agradecidos.
o urso passou a morar na casa (depois de limpar os restos dos antigos moradores) e lá viveu até morrer de velhice.
MORAL DA HISTÓRIA: quem disse que o crime não compensa????

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7- a criança olhou a neve lá fora.
teve ansias de prová-la. já que a neve caía das nuvens e as nuvens eram de algodão doce, a neve devia ser o resquício desse algodão doce...
ela saiu até a neve, com seus pézinhos descalços e sua camisolinha leve de chita.
estava adoentada, tinha um ínicio de pneumonia.
mamãe tinha saído, precisava trabalhar para pagar-lhe os remédios.
ela estava só. e correu para a neve.
a princípio, ela gostou da sensação geladinha em seus pés e do vento gélido em seu rosto.
e continuou correndo, em direção à negra floresta de grandes carvalhos.
ela brincava na neve,jogando-a para cima e sujando seus cabelos ruivos de branco, achando tudo engraçadíssimo, inclusive o chiado que começava a ressonar em seu peito infante.
a noite começou a cair, e o frio começou a incomodar-lhe, mas ela se perdera e não conseguia mais achar sua casa.
o sono começou a perturbá-la, e ela deitou-se e adormeceu.
quando acordou, havia muitas crianças como ela, mas elas brilhavam e tinham argênteas asas... e a menininha foi feliz para sempre...

[já a mãe dela, quando chegou em casa e não encontrou sua única filha, desesperou-se. e quando lhe touxeram na manhã seguinte o corpinho azulado e gélido da pequena, fez questão de ficar só, metendo uma bala na cabeça e passando a eternidade num lugar gelado e escuro, chorando pela criança que sequer recordava-se dela]

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outra hora eu posto o resto... é tudo, por hoje^^
(e estou trabalhando no "o libertino e a prostituta", em breve terão a parte II e III, aguardem^^)

domingo, 5 de abril de 2009

Saudações e algo mais

Meus cumprimentos a todos ilustres escritores presentes aqui!
Meu nome? Isso não importa, nem minha idade, cidade, ou coisa do gênero.
Aqui vai um texto meu para que assim me conheçam de verdade.

Revoada

As pernas brancas da garota e suas coxas ingênuas apertavam sua cabeça, enquanto o rosto lhe fazia cócegas na virilha com a barba recém chegada. Os lábios do jovem de longos cabelos abocanhavam com delicadeza o íntimo da garota ofegante. Num ritmo desritmado, sua língua dançava valsas e outras danças. Inebriado pelo vinho íntimo que lhe escorria pela boca e lhe ensopava a fronte, alternava seu percurso e lhe beijava os pés e a barriga, num ritmo preguiçoso e concentrado.
Os pequenos pés da garota se balançavam no ar, como pássaros numa eterna e confusa revoada. As unhas, vestidas de vermelho, faziam desenhos nos ombros do jovem, enquanto que, com a outra mão, puxava e empurrava-o com os dedos enroscados em seus cabelos.
Soltou curtos resgungos de prazer quando foi mordida levemente na ponta rosada dos seios e logo depois quis afogar-se no beijo mole, escorregadio e profundo que lhe atacou a boca, devagar. Exausta, perdeu-se de seus limites enquanto as línguas travavam uma batalha justa, onde jamais haveria de ter um vencedor.
As pernas bambas se entregaram ao frio chão de azulejos, que agora parecia quente. Ficaram ali, olhando um ao outro, com braços entrelaçados em uma cúpula de intimidade verdadeira. Falaram bobagens e deram risadas sinceras. Com muito esforço levantaram-se e acabaram de tomar o banho e com esforço muito maior foram embora.

sábado, 4 de abril de 2009

A vida sob uma mira é tão mais bela.

Àí vai um texto, obviamente influenciado pela minha vida atual. Espero que tirem algo interessante dele.




Ele estava fatigado. Total e puramente. As dificuldades, o trabalho massacrante, as agitações na faculdade que o impediam de estudar o que amava. Diga-se de passagem a única coisa que realmente amava. Tudo isso o havia sobrecarregado a um ponto que ele sabia que não era saudável.
Respirou fundo, sentindo os volumes metálicos dentro da mochila. Sabia que aquilo era só para se sentir melhor, caso ocorresse algo violento durante as inacabáveis manifestações se sentiria mais seguro. Poderia barganhar , usando o medo. Há!Quem ele queria enganar, nunca fizera mal a uma mosca e, provavelmente , não começaria agora.
Prosseguiu na caminhada (afinal os ônibus internos da faculdade não funcionavam durante os protestos), chegando finalmente À área onde suas aulas eram ministradas. E viu, sem surpresa alguma mas com muito desgosto, pessoas com camisetas padronizadas e placas ans mãos e um indivíduo com um microfone dizendo:

"... e esses burgueses reacionários vão ter de nos ouvir! Nós faremos greve enquanto for necessário, até que eles nos ouçam! Não vamos permiter que ninguém entre nas salas hoje, pois temos de nos unir! Os estudantes deste país têm o poder e nós.."
Ele se desligou por um instante.Seria possível que dessa vez eles fossem impedir que ele subisse para a sala? Ele decidiu tentar e ver no que dava.

Ao chegar na frente da rampa já sentiu so olhares ao seu redor e rapidamente foi cercado, iniciou-se o diálogo.

" Não , companheiro, o senhor não vai subir pra sala. Nós vamos ganhar, essa greve será vitorioso"
"Escutem, essas greves raramente ganham algo de verdade. Deixem eu subir pra sala, por favor."
"Não, não, venha, vamos conversar, Junte-e à causa. Nós temos de..."

"A , esquece. Vocês ficam agitando toda essa merda e esses ideias estúpidas e eu não tenho mais saco pra ouvir"

Ao se afastar ele sentiu que eles viriam a ele para tirar satisfações, mas estava calmo, ainda.

"Escuta aqui , seu burguesinho de merda, disseram enquanto apontavam o tênis que ele havia pago em 5 vezes no cartão às custas de muito esforço.Você não vai ofender nosso movimento e noss ideias- diziam enquanto cuspiam em seu rosto e um deles o empurrava. Ou nós te mostraremos a força (o brutamontes com boné personalizado que o empurrava fazendo cara de cachorro louco) da causa sindical e é melhor você se desculpar antes que gente resolva engrossar.

Ele apenas se afastou enquanto eles riam de sua "covardia" e mexeu um pouco na mochila, de cabeça baixa. E então ele voltou ostentando a Glock 380 segura firme nas duas mãos, desferindo três tiros no peito do líder deles.
Em seguida prosseguiu antes que alguém entendesse direito, derrubou mais quatro membros do grupo enquanto os outros corriam.

Então ele guardou a arma e subiu a rampa, calmamente e foi procurar o professor, que estava com cara de confuso e notou a expressão de pesar na face do aluno.
Ele, por fim, entregou a monografia e deu um sorriso para o professor.
Agora faltaria muito pouco para ele conluir o curso. Mas estava tudo acabado , mesmo.


Desceu as escadas, tirou o pente da arma, desengatilhou-a e aguardou a polícia chegar, sentado num canto e lendo sua leitura obrigatória pra próxima aula, que nunca chegaria a assistir. Ao menos talvez os próximos alunos tivessem uma greve a menos.

Here i am

Boa tarde, venho me apresentar, finalmente. Não tenho muio a dizer ao meu respeito, leiam o que escrevo e concluam o que quiserem, fico À disposição para esclarecer dúvidas sobre os textos, também.

Um cordial "sejam bem-vindos ao nosso jogo" para todos

sexta-feira, 27 de março de 2009

O Nome Falso

Todas as pessoas tem o péssimo hábito de idealizar um romance perfeito, onde todas as carícias e sentimentos são retribuidos com total equivalência. E por esse motivo, se sujeitam a diversas situações e se atiram deliberadamente no oceano turvo dos desamores com a única intenção de acharem o amor perfeito. Porém nenhuma delas sabe como ou por onde começar. Talvez pelo achar, pela aura, pelo timbre de voz... Mas, em geral e que poucas delas sabem, é pelo nome da pessoa e a forma que ela se apresenta no primeiro encontro.
Por exemplo, você pode olhar a pessoa mais bela do mundo (aos seus olhos, é claro) e conversar com ela, mas no primeiro diálogo você nota o fato da pessoa nada mais ser do que uma casca oca. Se persistires nessa ideologia, nada mais será que um imbecil superficial. Doravante, ao ver a pessoa mais feia que poderia imaginar, mais feia que o corcunda de Notre Dame, ou a pessoa mais indiferente que um par de tênis velhos amarrados em um poste, e ao trocar palavra com a mesma, sentir algo no seu íntimo. Em seu nome, em jeito de ser. Será uma pessoa sagaz, espirituosa e está a um passo do relacionamento ideal que sempre sonhastes. Já achar ambas as características em uma pessoa só é praticamente impossível. Uma probabilidade de 0,56%. E mesmo que você não tenha conhecimento dessa estatística, se apaixonará perdidamente pela pessoa. Paixão essa que se tornará obsessão. Obsessão essa que se tornar´uma tragédia. Tragédia essa que se tornará uma fantasia. Fantasia esta que se tornará uma história que irei lhes contar.

Havia uma vez um rapaz de cerca de 26 anos, comum como maioria dos transeuntes que estão ao meu redor agora e que vemos em nosso dia-a-dia. Mas em sua aparência, havia algo de místico às pessoas, se parassem para analisar. Seus olhos negros, profundos e hipnotizantes, a face estreita e firme, cabelo lisos e igualmente negros a altura do ombro, magro e de cerca de 1,69 de altura. A você pareceria uma pessoa qualquer realmente e eu não vos culpo por isso, por essas descrições praticamente simplórias não seria capaz de descrever a sua beleza. Mas se o visse e parasse no mínimo por cerca de 5 minutos e conversar com ele, seria o bastante para admira-lo ou apaixonar-se por ele.
A voz grave, porem extremamente suave junto ao seu olhar mesmerizante, a simpatia e a complacência que ele mostrava eram da mais pura e extrema nobreza, completamente morta neste século XXI. Assim era o motivo pelo qual todas as garotas ao seu redor o adoravam, admiravam-no. E todos os rapazes o odiavam, detestavam-no com o mais puro e completo rancor.
Mas tudo isso para ele nada mais passava tão indiferente como uma garoa outonal. Não se importava com os sentimentos que as garotas o demonstravam e não dava a mínima para a aversão que os garotos o devotavam. Sua vida girava inteiramente ao redor do instante, as conversas, as carícias, aos beijos, ao sexo e aos nomes falsos.
Para ele era mais confortável viver uma vida poligâmica e retornar sempre para casa com seus sentimentos voltados a si mesmo ou a trivialides. E isso se devia ao medo de se relacionar-se com outrem novamente.
Ele se envolvera quando tinha mais ou menos 20 anos com uma mulher 3 anos mais velha que ele e, baseado na "pessoa ideal", encontrou a peça que faltava em seu quebra-cabeça. Porém como todo bom relacionamento, como todo sonho agradável, esse romance terminou súbita e violentamente, deixando somente uma névoa de memórias, saudosismos, solidão e desespero. Com medo de amar novamente, entregou sua linha escarlate do destino a Deus-dará até segunda ordem, que era a morte ou alguma doença incurável que demoraria a chegar.
Para curar seu coração partido, ele o recompunha diariamente enquanto doso os outros definhavam.
A cada nova garota que ele se envolvia surgia um fragmento de si para inteira-lo. Ele mais se parecia como um cleptomaníaco de emoções. Um viciado sem volta.
Tinha elaborado cerca de 500 nomes falsos com vidas falasse tudo o mais falso. Usavam-nos constantemente com cada pessoa para que cada pessoa que ele se relacionava nunca o conseguisse encontrar e desaparecia como folhar de em uma árvore morta.
As garotas amavam o Jim que fora molestado pelo pai, um Carlos que era gerente de uma rede bancária qualquer, um Marvin que tinha cerca de 17 T.O.C.'s, um descendente de sangue de uma família de origem bárbara, um gari que anseava sr cantor 'revival' dos anos 80, um alienígena, um alcólatra escritor, qualquer pessoa menos ele mesmo. Coisa que somente uma pessoa soube.
Era regra dele mesmo nunca se apaixonar, telefonar ou pensar em ninguém após aquela noite que havia se envolvido com alguém. Mas, mesmo que ele tivesse estipulado essa norma, mesmo que seu coração tivesse sido partido de uma forma talvez irreparável, ele acabava se traindo nisso. Um dia era uma loura que trabalhava como secreta de uma sede da AIG, uma estudante de biologia marítima, uma que tinha dupla personalidade, uma ninfomaníaca que gostava de Furries, uma alcólatra... Mas ele sabia bem que sentia isso pois cada uma delas tinha, em certo ponto, particularidades semelhantes a pessoa que o havia enxotado e o fazer começar tudo aquilo.
Um dia ele entrou em uma boate qualquer em seu caminho e começou a bate papo com a primeira mulher viu em sua frente. Cabelos ruivos, olhos negros, baixa estatura usando uma bota de couro e trajando um vestido vermelho adornado em violeta. Ela se chamava J, de Jenny. Ele se chamava F, de Franz. Ela era supervisora de expedição e ele era um auxiliar administrativo. Ela era de áries e ele de escorpião. A banda predileta dela era Aerosmith e a dele era The White Stripes. Ela bebida Daikiri e ele Gin Fizz. Ela lia Ginsberg e adorava os filmes do Quentin Tarantino. Ele lia Rimbaud e amava os filmes do Stabley Kubrick. Ela gostava de lagartos e ele de girafas. Ela tinha 31 e ele 24.
Por essas e outras diferenças, acabaram em um motel. Ela gostava de Dog-Style e ele de ficar por baixo, mas isso não impediu de ambos gozarem exatamente no mesmo instante.
Ela fumava Camel e ele Lucky Strike, mas ambos permaneciam abraçados e soltando a fumaça ao mesmo tempo.
Eram diferentes, mas seu olhos eram os mesmos.
Eram os mesmos, somente com nomes falsos.
F e K eram eles mesmos.
Somente assim que caiu a ficha que ela era a garota que o tinha transformado naquilo... Mas pensou melhor e finalmente compreendeu. Eles apenas não estavam preparados para tudo o que se seguiria e seguiram rumos distintos. Ele escolheu uma vida de momentos e diversões para poder ocupar sua mente vazia e solitária, desacostumada com tudo aquilo e decidiu por a culpa nela para não julgar-se um cretino, escolheu como alibi culpar sua ex. Já ela tinha seguido seu caminho e vivido como bem queria, extremamente diferente do dele, mas percebeu o que finalmente perdera e queria voltar a sua vida igual a um VHS com o final reprisado de uma novela. Ambos havia errado em suas vidas, errado em suas decisões, em seus pensamentos e destinos mas ela preteriu por correr atrás dele de uma forma ou de outra, mesmo imaginando que todo o seu esforço resultaria no mais absoluto nada. Mas estavam frente a frente um ao outro nesse instante, compartilhando suas vidas falsas.
Passou-se 1 semana e eles voltaram se falar. Passou-se 1 mês e eles voltaram a namorar. Passou-se 1 ano e eles se casaram no pequeno casebre que dividiam, pensando seriamente em seus futuros.

O nome do homem ideal e da mulher perfeita permanecerá desconhecido pelo resto da eternidade. Guardado somente na mente desse escritos de terceira que voz relatou essa estória. Mas somente posso lhes afirmar que ambos estão felizes hoje em dia e serão dai por diante. Souberam esquecer suas mentiras e gritar seus nomes verdadeiros ao por-do-sol clamando por perdão ao nome dos corações quebrados enquanto milhares de corações feridos sangravam em seus sonhos belos e irrealizáveis.













Bom, reclamaram que eu não escrevia nada de novo, aí está então.

Ouvindo : Fat Boy Slim - Joker

quinta-feira, 26 de março de 2009

o libertino e a prostituta (parte I de IV)

a chuva e o vento gelado entravam impiedosamente pelo buraco na janela. as finas e puídas cortinas sussurravam e dançavam ao sabor da tempestade que assolava a rua lá fora, como fantasmas de todas que já haviam cruzado seu caminho alguma vez.
a cama, velha, de madeira carcomida por muitas gerações de cupins, rangia a cada mínimo movimento que fazia, sentado ou deitado, tentando vencer a sarcástica insônia que o agarrava e não o deixava em paz.
ele não queria ficar acordado, seus pesadelos já pareciam doces sonhos perto dos horas de vigília, a torturar-se com todos seus pensamentos, lembranças de seus erros, memórias de suas mágoas sem fim.
o gosto amargo de incontáveis cigarros e doses de bebida não largavam mais sua língua, o preço da boemia não lhe parecia mais tão vantajoso, mas também era um caminho que não tinha mais volta.
os corações que partira; as vidas que desgraçara; cada um dos jovens mancebos, puros como anjos, e romanticos como donzelas do passado que ele pusera a perder, levando-os como seus aprendizes à botecos obscuros e lugares de reputação duvidosa; nada poderia apagar seus atos impensados, e inconsequentes.
levantou-se da cama barata, olhou no rádio relógio ao seu lado: 3:47 da madrugada. levantou-se. caminhou cambaleante até o banheiro, urinou, lavou as mãos, o rosto, molhou os cabelos compridos e mal-cuidados e voltou para o quarto. uma barata rondava um cinzeiro transbordante. soltou um palavrão e resolveu deixá-la onde estava. pegou a garrafa de whiskey barato ao seu lado e deu uma tragada longa, até sentir queimarem suas entranhas. acendeu o cigarro de marca duvidosa que estava no maço amassado em seu bolso, puxou com ânsia a fumaça cinza-azulada, e deu outra tragada no whiskey.
olhou ao redor, parou numa bíblia desbotada e corroída por traças, jogada numa gaveta que não fechava mais. engasgou-se com a fumaça ao rir da ironia daquilo. o que fazia uma bíblia sagrada no quarto de um ateu libertino e desgraçado como ele?
pensou então em louise, e como ela também era um contraste tão trágicamente irônico em sua vida; pegou seus poucos pertences (a saber: uma carteira velha, uma jaqueta de couro tão velha quanto a carteira, o maço de cigarro e a garrafa de whiskey), deu uma última olhada na bíblia, quebrou mais o vidro da janela,deixou bastante de seu sangue escorrer pela cama e pelo quarto, até ficar tonto pela perda de sangue, estancou o sangramento com um farrapo arrancado duma camiseta que ia para o lixo, deixou a porta do quarto aberta, com a chave caída por perto, e desceu, quase tão furtivo quanto um gato, a escadaria do prédio onde estava. parou pouco antes do fim das escadas, deu uma boa olhada no porteiro... aquele não acordaria antes do sol raiar. então tratou de pegar as notas que tinha dado ao velho como pagamento pelo aluguel do quarto por aquela semana (ele entrara no quarto 5 dias antes, e ninguém o vira desde então), e sumiu pela tempestade, misturando-se com as sombras sujas da Cidade do Pecado.


[título provisório, se eu não pensar num melhor, fica esse mesmo]

sábado, 21 de março de 2009

o fim para gelsie e pitte

e então, acabou.
talvez por tolices, mas mais sinceramente por motivos que machucavam demais, mas acabou.
a melhor relação que ela já tivera, a proximidade com a pessoa mais importante que ela já conhecera.
tudo, desde o começo fora incrível. a maneira que o conhecera, as conversas, o sentimento que tirara seu mundo do eixo... ele era tudo que ela podia querer em alguém, tudo que ela sempre procurara, mas parece que ela nunca estaria pronta realmente para estar com ele e viver aquele sonho que ambos almejavam...
ela queria sentir-se amada, e ele lhe dava aquilo num nível que ela sequer podia imaginar como possível... então por que não era a pessoa mais feliz do mundo, naquela doçura, calmaria e entendimento que tinham? por que tinha aparecido outrém??? por que o mundo tinha maculado aquele amor, que povoava os sonhos dela, desde a mais tenra idade???
quem teria as respostas?
e ela se lembrava, sem qualquer consolo possível, de seus mil trejeitos únicos, entre desajeitados e delicadíssimos; seus grandes olhos profundos e negros; seu cheiro delicado de pele, misturado à perfume masculino, cigarro e bebida; seus lábios macios e suas palavras inmflamadas; e principalmente, de sua alma única, cheia de conhecimento e sentimentos doces...
tudo acabara para ela, por mais que ela quisesse voltar atrás, e correr dar-lhe um abraço... se era melhor que ficasse longe, por mais que aquilo lhe ferisse mais profundamente do que qualquer outra dor que ela sofrera, ela iria ficar longe, e de longe observaria o desabrochar daquela flor que um dia seria a mais célebre em todo o jardim...

quarta-feira, 11 de março de 2009

sombras.

ele acendeu mais um cigarro.
estava difícil conseguir dormir naquela noite.
o quarto parecia grande demais, assim com a cama... tudo parecia frio demais, vazio demais...
ele sabia o que, ou mais exatamente quem faltava no quarto, mas não havia nada que sua vontade de não ficar só pudesse lhe proporcionar como paliativo na madrugada insone.
olhar para o teto e suspirar... parecia ser tudo que lhe restava como opção, não lhe deram alternativas naquele momento sombrio de seu dia.
e então, sem mais nem menos, as sombras da rua começaram a se alongar, indefinidamente, e passaram à se esgueirar para dentro de seu quarto, aquele quarto que já era escuro, frio e triste o bastante... mas as sombras não se importavam... elas continuaram a invadir, de forma lenta e rastejante, aquele quarto de pesadelos despertos, de solidão claustrofóbica...
sombras rastejantes, solidão clautrofóbica, frio, vazio, ausência, insônia... desespero.
e quando tudo aquilo o engoliu, num sono de trevas eternas, nada sobrou, além das cinzas de um cigarro esquecido por alguém que não mais acordaria.

terça-feira, 10 de março de 2009

outra (ilustre?)escritora fracassada

minha apresentação por aqui...
bem, acho que me sairei pessimamente nisso, mas vamos lá.
eu sou a co-fundadora da experiência aqui (sim, este blog é uma experiência, um tanto pretensiosa, na verdade, mas crio que tenha base suficiente para sê-la...), que surgiu de devaneios literários regados à álcool e esperanças...
como já foi citado, no primeiro post, deixem seus comentários, fiquem a vontade em escarrar sobre nossas palavras... nós já somos ilustres escritores fracassados, não há mais nada que vocês possam tirar de nós... entretanto, caso nos apreciem, ficaremos felizes em retribuir à altura, melhorando cada vez mais a qualidade do blog e a quantidade de postagens...
sejam bem vindos, ao nosso estranho mundinho de palavras... sintam-se a vontade e voltem sempre^^

sábado, 7 de março de 2009

Rota de Fuga

Todas as pessoas correm. Claro, por motivos que somente cada uma delas sabe, o porquê disso tudo. Mas não há melhores motivações que o medo e o desespero. Não importam as ruas, vielas, montanhas, becos ou tudo junto... Não mais. A vontade de fugir que o medo proporciona-nos é tão exorbitante quanto a falta de bom-senso das pessoas. O desespero faz-nos correr pelas ruas desenfradamente, indiferente se irá a algum destino ou não.
Mas, por mais que nós nos ponhamos a correr e correr até os pulmões explodirem e o cérebro fritar, sempre voltamos ao ponto de partida
Nada

Certa noite, voltando de uma de suas festanças corriqueiras, Joseph aproveitava o resto do franco entusiasmo e euforia que o álcool tinha por fazer em seu corpo, mesmo que não estivesse alcoolizado, ele poderia aproveitar uma boa meia hora de êxtase alcoolizado com diversão noturna. Um entretenimento bastante fútil, mas que livrara-o da melancolia e solidão muitas vezes.
Somente nessa noite, havia conhecido umas 3 pessoas novas. Obviamente elas lhe eram indiferentes como pedras no meio de uma colina, mas o ser-humano, sem exceções, necessita do contato-social para sentir-se acolhido, forte, superior. Havia trocado fluidos corporais com uma garota que, até aquele ponto, já havia esquecido completamente seu nome e rosto. Mas isso tem alguma relevância na juventude? Não digo juventude de idade, mas sim mental.
Se a vida for somente um conglomerado de fatos que se esquecesse hora ou outra. Qual seria a razão do arrependimento? Doravante, o arrependimento depende de você.
Joseph sempre crera que era uma das pessoas mais fortes do mundo. Não forte de porte físico, mas forte em sua imponência, sua altivez. Não tinha nem um pouco do que as religiões falam com tanta avidez, o "auto-reflexo". Sua vida resumia-se ao presente, ao hoje, ao agora. Seu pasado e seu futuro eram somente as invenções e promessas sussurradas de ouvido em ouvido que nunca chegaremos a saber e que não tem importância. Ele era apenas uma comum. Desde os seus vícios até seu modo de pensar. O que que um cigarrinho, truco, mulheres e inconsequência há de fazer-nos mal?
Não havia por que não passar ao seu lado, no meio da madrugada e o achar completamente indiferente.
Camisa vermelha sem estampas, jaqueta e calça igualmente de jeans azulado, tênis All-Star. Sem anéis ou quaisquer tipos de bijuterias, olhos e cabelos castanho-escuros, estatura mediana e um contorno de rosto simpático.
Um cidadão desse porte poderia ser um meliante julgado, desprovido de provas ou simplesmente a encarnação do mal? Nesta rua deserta?
Dificilmente.

Joseph já estava a alguns passos de terminar o quarteirão e entrar em uma rua mais movimentada: luzes, carros, pessoas, poluição, etc. Poderia estar melhor e mais seguro que naquele beco escuro de casas mal cuidadas. Apesar das sílabas "Me-Do" não encaixarem-se em seu dicionário, "Melhor prevenir do que remediar" era um de seus lemas de vida.
Ao entrar na avenida, nada de diferente, a calmaria em seus passos eram iguais, ecoando nas ruas desertas e voltando aos seus ouvidos, nenhum ser vivo em seu encalço ou companhia. Mantinha seus pensamentos eufóricos a todo vapor. A diferença da calmaria que sentia agora e a paciência de cinco minutos atrás, eram os carros que passam velozmente perto dele, o barulho de uma cidade semi-morta soando em seus tímpanos, um belo réquiem inexistente. Uma sinfonia que lhe agradava, lhe acalmava. Fazia deixar de lado todas as guerras, pobrezas, fomes, hipocrisias, problemas, vergonhas... Enfim, tudo. A cada passo que dava, seu ego inflava-se de auto-confiança e prepotência. Era o dono do mundo naqueles breve instantes. Seguiu com mais ânimo rumo à sua casa.
O relógio público marcava exatamente 01:16 e ele nem se importava com isso. "O relógio só existe para os compromissos" divagava ele. Nada de relevante. Somente lhe importava a liberdade que sentia, a realidade que podia agarrar em suas mãos, todo o tempo que lhe fora concedido para viver sem objeções. Mesmo que falhas, em seu todo.
Nosso personagem sabia, mais do que qualquer outro, que a felicidade não existe, que o paraíso é uma mentira. Mas não custava aproveitar os momentos de esquecimento e empolgação.
De súbito, surgiu em sua frente uma moça comum, típica de uma noite fria, andando em passos inseguros e incertos rumo ao nada. Passos contínuos e meio que apressados ecoando junto aos seus tornando disso tudo uma ode à solidão.
"Garota bonita" pensou Joseph sentindo seu leve e doce perfume exalando de seu pescoço coberto pela lã. Odor que desapareceu em alguns instantes.
-A noite nunca morre, apenas dorme - sussurrou com um sorriso no rosto, com um sorriso de indescritível euforia. -Quem não há de adora-la?
Prosseguiu vitorioso. Rumo ao universo de seus sonhos.
A nossa, invariável, felicidade certeira.

Alguns instantes depois, começou a atacar-lhe o sono, o terrível vilão da consciência e, consecutivamente, uma vontade inexorável de chegar logo em sua casa e descansar. Aproveitar que não sofria de insônia e velejar , mergulhar o mais profundo possível em seu sub-consciente em um coma voluntário e acordar repentinamente com um despertador histérico que ele tanto detestava, pronto pra tudo e todos, o mundo inteiro. O que o animava é que já estava a 2 blocos de sua moradia que tanto ansiava, quase no fim da avenida.
No momento em que estava na parte final daquele quarteirão, em frente a um banco municipal, uma viatura policial estacionou de súbito perto dele e finalizou por parar bem perto de onde ele estava. Dentro dela, saíram quatro policiais armados não de 9mm como de costume, mas sim de fuzis de porte militar, correndo em direção ao portão entreaberto do banco onde Joseph encontrava-se naquele instante. Correndo alucinadamente, como que em busca de sangue de sua infeliz presa. Prontos para matar e morrer em sua própria honra e seus princípios.
Ao ver as armas, os políciais, seus olhares amedrontadores, Joseph sentiu de leve um calafrio percorrer a espinha e o coração gelar. Um terror absurdamente imenso mixado com o medo.
Viu tudo que poderia ver a sua vida inteira, as viseiras lhe foram arrancadas em um puxão só. Absolutamente tudo. O sono, a auto-confiança, a prepotência, a euforia, sua existência toda desvaneceu-se num piscar de olhos. Somente refletia em seu globo ocular aquele instante, os passos apressados e silenciados pelos coturnos.
Pensou no que fazer, a sua inteligência de que todos admiravam poderia salvar-lhe daquela aflição. Ficar e enfrentar. Inventar o que falar. Agir friamente. Andar como se nada tivesse acontecido ou ocorrido. Mas, cara a cara com o desespero tudo é em vão.
Correu
Correu
Correu
Correu desesperadamente sem rumo para qualquer lugar, longe.
Correu e se perdeu.
Afugentou-se por entre latas de lixo, próximas a um córrego... Silêncio... Joseph esperou para ver se algo aconteceria. Exceto o vento soprando não ocorreu nada de anormal.
Estava só.
Completamente só

Fechou os olhos e respirou profundamente em busca de uma saída, não só naquele lugar, mas de tudo que lhe passava na mente. Mordeu os lábios e gritou, urrou em um silêncio bizarro que acordou completamente a vizinhança. Acocorou-se e pôs as mãos sobre a cabeça, ainda suspirando e procurando acalmar-se, de alguma forma. Procurou em absolutamente tudo, um refugio de todas as assombrações de seu ser. Quando começou a achar tudo mais calmo, capaz de seguir adiante, prosseguiu.
-Abracadabra -Disse ele abrindo os olhos.
Os becos escuros ainda eram amedrontadores mas ele já não sentia mais medo, somente angústia. Levantou-se vagarosamente e pôs-se a andar rumo onde estivera e conseguir achar a sua casa. Notou nesse percurso que estava COMPLETAMENTE perdido. Tal susto o fizera correr de uma forma tão bestial que não deu por si onde estava até que notou: Estava só, e na escuridão da noite que ele tanto adora.
Como voltar?
Siga a Luz inexistente!
Andou por alguns becos imundos e iguaizinhos todos. Cansou-se de sua peregrinação infrutífera e largou-se no chão pela exaustão físico-mental.
-Merda -Disse e esmurrou o chão no qual estava jogado.
Fitou a parece e lhe parece que havia um rosto feminino nela, um rosto tímido e de feições delicadas. Rosto que apesar de bem humano, ainda era uma parede. Achou tão idiota a visão que começou a rir de si mesmo, tanto para descontrair como para ocultar o temos que sentia;
Ilusão somente
Uma ilusão tão horrível que era realidade
Aquele rosto, ornamentado de concreto maciço, com as feições mais delicadas que poderia esperar-se de um objeto inanimado continuou fincado ali mesmo, dormindo confortavelmente. Joseph não acreditava no que estava diante de si. Num súbito, o olho direito daquela "Escultura" abriu-se e a íris daquela singularidade começou a apontar pra Joseph. Não era somente seus contornos que eram belos, seus olhos também eram.
Difícil de crer, para ele, que aquele rosto imenso, quase do seu tamanho, e que o fitava tão pesarosamente era a sua prima. Prima que ele amou, seja num sentido, seja noutro. Aqueles olhos eram inigualáveis.
Conforme a boca começou a, lentamente, mover-se tentando dizer algo a Joseph, ele começou a tremer e suar frio e não quis esperar ela terminar a palavra pra começar a Correr, correr e correr rumo à sua salvação naquele "Beco de assombrações".
De soslaio, ele via pedaços de brinquedos destruídos (carrinhos de ferrari, soldados), pedaços de pano, corpos humanos, objetos utilizados também de forma letal, etc. Mas o que mais o impressionou fora ver uma pequena existência branca e felpuda mexendo-se nos mais mínimos detalhes. Algo que não era abstrato e sim real. Aproximou-se com o máximo de cuidado até que aquilo olhou assustado para ele.
Um gato.

-Zigzo... -Sussurrou da forma mais melancólica possível e caiu de joelhos perto do felino que, até aquele ponto, não tinha notado a presença de Joseph, porém o barulho que seus ossos fizeram ao ajoelhar-se fizeram a atenção do gato voltar-se a ele. No mesmo instante, o rabo de gasto ficou em forma de haste, e seus pelo arrepiados, afastando-se vagarosamente daquele homem, já com olheiras absurdas e arfando violentamente com um misto de cansaço e tristeza. -Zigzo!! -Repetiu Joseph e deu um pequeno movimento em direção ao felino que já foi o bastante para fazê-lo correr impassível e entrar no meio da escuridão.
Aquela perda súbita, não só do bichano, mas também de suas mais distintas lembranças o puseram em modo de alerta e saiu em disparada atrás do gato.
Mesmo que tentasse desviar qualquer coisa que viesse a sua mente, foi lhe inegável vir a tona suas memórias com o Zigzo, sua risada alegre e infantil e os miados de temor do gato. O esporte preferido dele era fazer testes com o gato: jogá-lo, espetá-lo e, acima de tudo, assustá-lo. Assustava-o constantemente. Óbvio que não era deliberadamente, era somente uma criança na época. Mas quem dizia que nos males infantis, nós nos damos conta?
Arrependimento, pode-se dizer, impulsionaram-no em buscar uma de suas memórias mais preciosas e mais saudosas.

De súbito, as latas de lixo viraram cortinas, os muros tornaram-se tábuas repletas de pichações e vestígios de chicletes. Abaixo de Joseph, onde ele tropeçou, havia um vaso de cristal. Não era delicado como vidro, e sim firme como uma rocha. Olhou para a sua esquerda, em um desvio que aquele beco fazia, e vira uma árvore em chamas.
Levantou-se, desesperadamente e continuou a correr. Sem parar, puxou de dentro de sua jaqueta um cigarro meio amassado, acendeu-o e continuou a correr, ainda com mais ânimo.
Enquanto escorraçava pelos caminho estreito e escuro, olhava absolutamente tudo, sentia-se perdido no mais cruel purgatório. A sua vida. As sombras engolfavam tudo a seu redor, sem deixar vestígio de quaisquer esperanças.
Pouco a frente, viu uma frágil luz e achou que estava próximo do fim de todo o tormento. Viu, não muito distante, Zigzo correndo graciosamente em direção àquela luz. Impressionou-se com o fato de correr de modo tão veloz quanto ele, mas isso somente o animou e deu mais forças de continuar a correr.
Ao sair daquela escuridão aparentemente infindável, viu o que queria deixar mais distante de tudo. Avistou seus parentes sorrindo sorrisos amarelos, amigos de sua infância que tanto detestava rindo com a mais amarga hipocrisia, inimigos estalando os dedos constantemente, tentando mostrar força e provocar medo, pessoas que nunca vira olhando-o de forma desconfiada e interrogativa. Todos os olhares inexpressívos, o que os tornavam ainda mais aterradores, era como se pudesse perder-se naqueles olhos sem fim. Aquilo tudo, mesmo que próximo, era distante, via tudo como que de forma garrafal. Ainda correndo, cerrou os olhos para esconder-se dos olhares críticos e vazios que o fitavam até sentir o chão oscilando sob seus pés. Chispou com mais anseio até finalmente chegar do outro lado e... Surpresa!
Mais uma selva de tijolos, cipós de panos e árvores de concreto.

Ficou feliz e aliviado por estar distante de tudo e triste por lembrar de quem era, toda aquela "arrogância" que ele demonstrara até certo tempo atrás agora lhe era inútil.
Ainda percorrendo rapidamente (o que também o deixou assustado, não sabia que tinha todo esse fôlego, era uma energia inesgotável que jorrava dele) avistou o gato indo mais devagar, parecia estar cansado. Esta oportunidade de alcançá-lo o fez correr mais rápido. Como se ele mesmo tivesse drogado-se com a esperança.
Enquanto seguia, rumo ao Zigzo, viu algumas lojas no meio da escuridão : Bares, bordéis, fliperamas, lanchonetes, escolas, bancos, vitrines com manequins vivos, açougues e um sem número de coisas.
Um pouco mais a frente viu dezenas de "Josephs" em diferentes jeitos, trajes, maneiras e aparencias.
Notou agora. Como o Flash de uma foto percebeu o que se passava.
Culpava a polícia pela sua imprudência, por ter-lhe causado pânico, mas na verdade ele era o culpado.
Ele era o culpado!
O astucioso ladrão que fugira no último instante de tudo e todos, principalmente de si mesmo. Porém, diferente da realidade, a verdade caiu sobre ele, tudo de sua vida, tudo que ele não havia ainda compreendido esteve a seu lado, a sua frente e atrás, abaixo e dentro de si. Ele era culpado. Assassino de si mesmo. E somente lhe havia um álibi, o auto-perdão.
Poderia, de tudo que ele vira e lembrara-se, perdoar ainda? A vida realmente, em cada um de nós em sua devida intensidade, é algo cruel. No todo, mesmo que vivamos anos e anos a fio, não sabemos o que é viver. Somente achamos que sabemos de algo, sendo que a verdade que julgamos não existe. Nossa verdade, nossa, nossa e nada mais.
No fim do beco, já exausto, o gato parou repentinamente, em cima de uma lata de lixo e fitou Joseph desafiadoramente:
-Trick or treat? Verdade ou mentira? Perdão ou sentença?
Joseph deu um pulo como se saltasse por sobre um mar de lava e agarrou o gato de forma delicada ou toque, porém violenta aos gestos. Caiu no chão junto ao Zigzo.
-BU!! -Gritou fazendo uma careta pro gato que o fitava indiferentemente. Segurando-o da forma mais delicada possível, o abraçou sem o machucar e desfez-se em lágrimas, era agora somente um adulto com alma de criança, chorando o que perdeu, o que fizera de mal. A culpa. A nostalgia. -Desculpe-me! -Encolheu-se com o Zigzo em seu colo e com os olhos fechados.
Tudo não lhe parecia amedrontador, mas sim familiar, era a sua vida.

Olhou para seus braços e vira que estava a agarrar um saco de lixo fedendo a pura carniça. Largou-o gentilmente e limpou as lágrimas abundantes dos seus olhos com os punhos. Ergueu a cabeça e vira a casa logo a sua frente.
Ignorou a porta branca que ostentava o numero 63. Aquilo não importava. Uma vez que estava vivo, queria viver. Escalou pela parede por pequenos fragmentos que haviam nela até alcançar a janela de seu quarto e entrar por ela.
Pela janela fechada, viu absolutamente nada exceto a noite.
De súbito, caiu de costas no chão e começou a gemer e chorar descontroladamente até, depois de meio tempo, adormecer em forma fetal.
Dormira como uma criança que havia se tornado, agradecendo seu passado e sonhando com o futuro
01:18, marcava o relógio.








Ouvindo: Enmurée - Shinjitsu no Ame