sexta-feira, 27 de março de 2009

O Nome Falso

Todas as pessoas tem o péssimo hábito de idealizar um romance perfeito, onde todas as carícias e sentimentos são retribuidos com total equivalência. E por esse motivo, se sujeitam a diversas situações e se atiram deliberadamente no oceano turvo dos desamores com a única intenção de acharem o amor perfeito. Porém nenhuma delas sabe como ou por onde começar. Talvez pelo achar, pela aura, pelo timbre de voz... Mas, em geral e que poucas delas sabem, é pelo nome da pessoa e a forma que ela se apresenta no primeiro encontro.
Por exemplo, você pode olhar a pessoa mais bela do mundo (aos seus olhos, é claro) e conversar com ela, mas no primeiro diálogo você nota o fato da pessoa nada mais ser do que uma casca oca. Se persistires nessa ideologia, nada mais será que um imbecil superficial. Doravante, ao ver a pessoa mais feia que poderia imaginar, mais feia que o corcunda de Notre Dame, ou a pessoa mais indiferente que um par de tênis velhos amarrados em um poste, e ao trocar palavra com a mesma, sentir algo no seu íntimo. Em seu nome, em jeito de ser. Será uma pessoa sagaz, espirituosa e está a um passo do relacionamento ideal que sempre sonhastes. Já achar ambas as características em uma pessoa só é praticamente impossível. Uma probabilidade de 0,56%. E mesmo que você não tenha conhecimento dessa estatística, se apaixonará perdidamente pela pessoa. Paixão essa que se tornará obsessão. Obsessão essa que se tornar´uma tragédia. Tragédia essa que se tornará uma fantasia. Fantasia esta que se tornará uma história que irei lhes contar.

Havia uma vez um rapaz de cerca de 26 anos, comum como maioria dos transeuntes que estão ao meu redor agora e que vemos em nosso dia-a-dia. Mas em sua aparência, havia algo de místico às pessoas, se parassem para analisar. Seus olhos negros, profundos e hipnotizantes, a face estreita e firme, cabelo lisos e igualmente negros a altura do ombro, magro e de cerca de 1,69 de altura. A você pareceria uma pessoa qualquer realmente e eu não vos culpo por isso, por essas descrições praticamente simplórias não seria capaz de descrever a sua beleza. Mas se o visse e parasse no mínimo por cerca de 5 minutos e conversar com ele, seria o bastante para admira-lo ou apaixonar-se por ele.
A voz grave, porem extremamente suave junto ao seu olhar mesmerizante, a simpatia e a complacência que ele mostrava eram da mais pura e extrema nobreza, completamente morta neste século XXI. Assim era o motivo pelo qual todas as garotas ao seu redor o adoravam, admiravam-no. E todos os rapazes o odiavam, detestavam-no com o mais puro e completo rancor.
Mas tudo isso para ele nada mais passava tão indiferente como uma garoa outonal. Não se importava com os sentimentos que as garotas o demonstravam e não dava a mínima para a aversão que os garotos o devotavam. Sua vida girava inteiramente ao redor do instante, as conversas, as carícias, aos beijos, ao sexo e aos nomes falsos.
Para ele era mais confortável viver uma vida poligâmica e retornar sempre para casa com seus sentimentos voltados a si mesmo ou a trivialides. E isso se devia ao medo de se relacionar-se com outrem novamente.
Ele se envolvera quando tinha mais ou menos 20 anos com uma mulher 3 anos mais velha que ele e, baseado na "pessoa ideal", encontrou a peça que faltava em seu quebra-cabeça. Porém como todo bom relacionamento, como todo sonho agradável, esse romance terminou súbita e violentamente, deixando somente uma névoa de memórias, saudosismos, solidão e desespero. Com medo de amar novamente, entregou sua linha escarlate do destino a Deus-dará até segunda ordem, que era a morte ou alguma doença incurável que demoraria a chegar.
Para curar seu coração partido, ele o recompunha diariamente enquanto doso os outros definhavam.
A cada nova garota que ele se envolvia surgia um fragmento de si para inteira-lo. Ele mais se parecia como um cleptomaníaco de emoções. Um viciado sem volta.
Tinha elaborado cerca de 500 nomes falsos com vidas falasse tudo o mais falso. Usavam-nos constantemente com cada pessoa para que cada pessoa que ele se relacionava nunca o conseguisse encontrar e desaparecia como folhar de em uma árvore morta.
As garotas amavam o Jim que fora molestado pelo pai, um Carlos que era gerente de uma rede bancária qualquer, um Marvin que tinha cerca de 17 T.O.C.'s, um descendente de sangue de uma família de origem bárbara, um gari que anseava sr cantor 'revival' dos anos 80, um alienígena, um alcólatra escritor, qualquer pessoa menos ele mesmo. Coisa que somente uma pessoa soube.
Era regra dele mesmo nunca se apaixonar, telefonar ou pensar em ninguém após aquela noite que havia se envolvido com alguém. Mas, mesmo que ele tivesse estipulado essa norma, mesmo que seu coração tivesse sido partido de uma forma talvez irreparável, ele acabava se traindo nisso. Um dia era uma loura que trabalhava como secreta de uma sede da AIG, uma estudante de biologia marítima, uma que tinha dupla personalidade, uma ninfomaníaca que gostava de Furries, uma alcólatra... Mas ele sabia bem que sentia isso pois cada uma delas tinha, em certo ponto, particularidades semelhantes a pessoa que o havia enxotado e o fazer começar tudo aquilo.
Um dia ele entrou em uma boate qualquer em seu caminho e começou a bate papo com a primeira mulher viu em sua frente. Cabelos ruivos, olhos negros, baixa estatura usando uma bota de couro e trajando um vestido vermelho adornado em violeta. Ela se chamava J, de Jenny. Ele se chamava F, de Franz. Ela era supervisora de expedição e ele era um auxiliar administrativo. Ela era de áries e ele de escorpião. A banda predileta dela era Aerosmith e a dele era The White Stripes. Ela bebida Daikiri e ele Gin Fizz. Ela lia Ginsberg e adorava os filmes do Quentin Tarantino. Ele lia Rimbaud e amava os filmes do Stabley Kubrick. Ela gostava de lagartos e ele de girafas. Ela tinha 31 e ele 24.
Por essas e outras diferenças, acabaram em um motel. Ela gostava de Dog-Style e ele de ficar por baixo, mas isso não impediu de ambos gozarem exatamente no mesmo instante.
Ela fumava Camel e ele Lucky Strike, mas ambos permaneciam abraçados e soltando a fumaça ao mesmo tempo.
Eram diferentes, mas seu olhos eram os mesmos.
Eram os mesmos, somente com nomes falsos.
F e K eram eles mesmos.
Somente assim que caiu a ficha que ela era a garota que o tinha transformado naquilo... Mas pensou melhor e finalmente compreendeu. Eles apenas não estavam preparados para tudo o que se seguiria e seguiram rumos distintos. Ele escolheu uma vida de momentos e diversões para poder ocupar sua mente vazia e solitária, desacostumada com tudo aquilo e decidiu por a culpa nela para não julgar-se um cretino, escolheu como alibi culpar sua ex. Já ela tinha seguido seu caminho e vivido como bem queria, extremamente diferente do dele, mas percebeu o que finalmente perdera e queria voltar a sua vida igual a um VHS com o final reprisado de uma novela. Ambos havia errado em suas vidas, errado em suas decisões, em seus pensamentos e destinos mas ela preteriu por correr atrás dele de uma forma ou de outra, mesmo imaginando que todo o seu esforço resultaria no mais absoluto nada. Mas estavam frente a frente um ao outro nesse instante, compartilhando suas vidas falsas.
Passou-se 1 semana e eles voltaram se falar. Passou-se 1 mês e eles voltaram a namorar. Passou-se 1 ano e eles se casaram no pequeno casebre que dividiam, pensando seriamente em seus futuros.

O nome do homem ideal e da mulher perfeita permanecerá desconhecido pelo resto da eternidade. Guardado somente na mente desse escritos de terceira que voz relatou essa estória. Mas somente posso lhes afirmar que ambos estão felizes hoje em dia e serão dai por diante. Souberam esquecer suas mentiras e gritar seus nomes verdadeiros ao por-do-sol clamando por perdão ao nome dos corações quebrados enquanto milhares de corações feridos sangravam em seus sonhos belos e irrealizáveis.













Bom, reclamaram que eu não escrevia nada de novo, aí está então.

Ouvindo : Fat Boy Slim - Joker

quinta-feira, 26 de março de 2009

o libertino e a prostituta (parte I de IV)

a chuva e o vento gelado entravam impiedosamente pelo buraco na janela. as finas e puídas cortinas sussurravam e dançavam ao sabor da tempestade que assolava a rua lá fora, como fantasmas de todas que já haviam cruzado seu caminho alguma vez.
a cama, velha, de madeira carcomida por muitas gerações de cupins, rangia a cada mínimo movimento que fazia, sentado ou deitado, tentando vencer a sarcástica insônia que o agarrava e não o deixava em paz.
ele não queria ficar acordado, seus pesadelos já pareciam doces sonhos perto dos horas de vigília, a torturar-se com todos seus pensamentos, lembranças de seus erros, memórias de suas mágoas sem fim.
o gosto amargo de incontáveis cigarros e doses de bebida não largavam mais sua língua, o preço da boemia não lhe parecia mais tão vantajoso, mas também era um caminho que não tinha mais volta.
os corações que partira; as vidas que desgraçara; cada um dos jovens mancebos, puros como anjos, e romanticos como donzelas do passado que ele pusera a perder, levando-os como seus aprendizes à botecos obscuros e lugares de reputação duvidosa; nada poderia apagar seus atos impensados, e inconsequentes.
levantou-se da cama barata, olhou no rádio relógio ao seu lado: 3:47 da madrugada. levantou-se. caminhou cambaleante até o banheiro, urinou, lavou as mãos, o rosto, molhou os cabelos compridos e mal-cuidados e voltou para o quarto. uma barata rondava um cinzeiro transbordante. soltou um palavrão e resolveu deixá-la onde estava. pegou a garrafa de whiskey barato ao seu lado e deu uma tragada longa, até sentir queimarem suas entranhas. acendeu o cigarro de marca duvidosa que estava no maço amassado em seu bolso, puxou com ânsia a fumaça cinza-azulada, e deu outra tragada no whiskey.
olhou ao redor, parou numa bíblia desbotada e corroída por traças, jogada numa gaveta que não fechava mais. engasgou-se com a fumaça ao rir da ironia daquilo. o que fazia uma bíblia sagrada no quarto de um ateu libertino e desgraçado como ele?
pensou então em louise, e como ela também era um contraste tão trágicamente irônico em sua vida; pegou seus poucos pertences (a saber: uma carteira velha, uma jaqueta de couro tão velha quanto a carteira, o maço de cigarro e a garrafa de whiskey), deu uma última olhada na bíblia, quebrou mais o vidro da janela,deixou bastante de seu sangue escorrer pela cama e pelo quarto, até ficar tonto pela perda de sangue, estancou o sangramento com um farrapo arrancado duma camiseta que ia para o lixo, deixou a porta do quarto aberta, com a chave caída por perto, e desceu, quase tão furtivo quanto um gato, a escadaria do prédio onde estava. parou pouco antes do fim das escadas, deu uma boa olhada no porteiro... aquele não acordaria antes do sol raiar. então tratou de pegar as notas que tinha dado ao velho como pagamento pelo aluguel do quarto por aquela semana (ele entrara no quarto 5 dias antes, e ninguém o vira desde então), e sumiu pela tempestade, misturando-se com as sombras sujas da Cidade do Pecado.


[título provisório, se eu não pensar num melhor, fica esse mesmo]

sábado, 21 de março de 2009

o fim para gelsie e pitte

e então, acabou.
talvez por tolices, mas mais sinceramente por motivos que machucavam demais, mas acabou.
a melhor relação que ela já tivera, a proximidade com a pessoa mais importante que ela já conhecera.
tudo, desde o começo fora incrível. a maneira que o conhecera, as conversas, o sentimento que tirara seu mundo do eixo... ele era tudo que ela podia querer em alguém, tudo que ela sempre procurara, mas parece que ela nunca estaria pronta realmente para estar com ele e viver aquele sonho que ambos almejavam...
ela queria sentir-se amada, e ele lhe dava aquilo num nível que ela sequer podia imaginar como possível... então por que não era a pessoa mais feliz do mundo, naquela doçura, calmaria e entendimento que tinham? por que tinha aparecido outrém??? por que o mundo tinha maculado aquele amor, que povoava os sonhos dela, desde a mais tenra idade???
quem teria as respostas?
e ela se lembrava, sem qualquer consolo possível, de seus mil trejeitos únicos, entre desajeitados e delicadíssimos; seus grandes olhos profundos e negros; seu cheiro delicado de pele, misturado à perfume masculino, cigarro e bebida; seus lábios macios e suas palavras inmflamadas; e principalmente, de sua alma única, cheia de conhecimento e sentimentos doces...
tudo acabara para ela, por mais que ela quisesse voltar atrás, e correr dar-lhe um abraço... se era melhor que ficasse longe, por mais que aquilo lhe ferisse mais profundamente do que qualquer outra dor que ela sofrera, ela iria ficar longe, e de longe observaria o desabrochar daquela flor que um dia seria a mais célebre em todo o jardim...

quarta-feira, 11 de março de 2009

sombras.

ele acendeu mais um cigarro.
estava difícil conseguir dormir naquela noite.
o quarto parecia grande demais, assim com a cama... tudo parecia frio demais, vazio demais...
ele sabia o que, ou mais exatamente quem faltava no quarto, mas não havia nada que sua vontade de não ficar só pudesse lhe proporcionar como paliativo na madrugada insone.
olhar para o teto e suspirar... parecia ser tudo que lhe restava como opção, não lhe deram alternativas naquele momento sombrio de seu dia.
e então, sem mais nem menos, as sombras da rua começaram a se alongar, indefinidamente, e passaram à se esgueirar para dentro de seu quarto, aquele quarto que já era escuro, frio e triste o bastante... mas as sombras não se importavam... elas continuaram a invadir, de forma lenta e rastejante, aquele quarto de pesadelos despertos, de solidão claustrofóbica...
sombras rastejantes, solidão clautrofóbica, frio, vazio, ausência, insônia... desespero.
e quando tudo aquilo o engoliu, num sono de trevas eternas, nada sobrou, além das cinzas de um cigarro esquecido por alguém que não mais acordaria.

terça-feira, 10 de março de 2009

outra (ilustre?)escritora fracassada

minha apresentação por aqui...
bem, acho que me sairei pessimamente nisso, mas vamos lá.
eu sou a co-fundadora da experiência aqui (sim, este blog é uma experiência, um tanto pretensiosa, na verdade, mas crio que tenha base suficiente para sê-la...), que surgiu de devaneios literários regados à álcool e esperanças...
como já foi citado, no primeiro post, deixem seus comentários, fiquem a vontade em escarrar sobre nossas palavras... nós já somos ilustres escritores fracassados, não há mais nada que vocês possam tirar de nós... entretanto, caso nos apreciem, ficaremos felizes em retribuir à altura, melhorando cada vez mais a qualidade do blog e a quantidade de postagens...
sejam bem vindos, ao nosso estranho mundinho de palavras... sintam-se a vontade e voltem sempre^^

sábado, 7 de março de 2009

Rota de Fuga

Todas as pessoas correm. Claro, por motivos que somente cada uma delas sabe, o porquê disso tudo. Mas não há melhores motivações que o medo e o desespero. Não importam as ruas, vielas, montanhas, becos ou tudo junto... Não mais. A vontade de fugir que o medo proporciona-nos é tão exorbitante quanto a falta de bom-senso das pessoas. O desespero faz-nos correr pelas ruas desenfradamente, indiferente se irá a algum destino ou não.
Mas, por mais que nós nos ponhamos a correr e correr até os pulmões explodirem e o cérebro fritar, sempre voltamos ao ponto de partida
Nada

Certa noite, voltando de uma de suas festanças corriqueiras, Joseph aproveitava o resto do franco entusiasmo e euforia que o álcool tinha por fazer em seu corpo, mesmo que não estivesse alcoolizado, ele poderia aproveitar uma boa meia hora de êxtase alcoolizado com diversão noturna. Um entretenimento bastante fútil, mas que livrara-o da melancolia e solidão muitas vezes.
Somente nessa noite, havia conhecido umas 3 pessoas novas. Obviamente elas lhe eram indiferentes como pedras no meio de uma colina, mas o ser-humano, sem exceções, necessita do contato-social para sentir-se acolhido, forte, superior. Havia trocado fluidos corporais com uma garota que, até aquele ponto, já havia esquecido completamente seu nome e rosto. Mas isso tem alguma relevância na juventude? Não digo juventude de idade, mas sim mental.
Se a vida for somente um conglomerado de fatos que se esquecesse hora ou outra. Qual seria a razão do arrependimento? Doravante, o arrependimento depende de você.
Joseph sempre crera que era uma das pessoas mais fortes do mundo. Não forte de porte físico, mas forte em sua imponência, sua altivez. Não tinha nem um pouco do que as religiões falam com tanta avidez, o "auto-reflexo". Sua vida resumia-se ao presente, ao hoje, ao agora. Seu pasado e seu futuro eram somente as invenções e promessas sussurradas de ouvido em ouvido que nunca chegaremos a saber e que não tem importância. Ele era apenas uma comum. Desde os seus vícios até seu modo de pensar. O que que um cigarrinho, truco, mulheres e inconsequência há de fazer-nos mal?
Não havia por que não passar ao seu lado, no meio da madrugada e o achar completamente indiferente.
Camisa vermelha sem estampas, jaqueta e calça igualmente de jeans azulado, tênis All-Star. Sem anéis ou quaisquer tipos de bijuterias, olhos e cabelos castanho-escuros, estatura mediana e um contorno de rosto simpático.
Um cidadão desse porte poderia ser um meliante julgado, desprovido de provas ou simplesmente a encarnação do mal? Nesta rua deserta?
Dificilmente.

Joseph já estava a alguns passos de terminar o quarteirão e entrar em uma rua mais movimentada: luzes, carros, pessoas, poluição, etc. Poderia estar melhor e mais seguro que naquele beco escuro de casas mal cuidadas. Apesar das sílabas "Me-Do" não encaixarem-se em seu dicionário, "Melhor prevenir do que remediar" era um de seus lemas de vida.
Ao entrar na avenida, nada de diferente, a calmaria em seus passos eram iguais, ecoando nas ruas desertas e voltando aos seus ouvidos, nenhum ser vivo em seu encalço ou companhia. Mantinha seus pensamentos eufóricos a todo vapor. A diferença da calmaria que sentia agora e a paciência de cinco minutos atrás, eram os carros que passam velozmente perto dele, o barulho de uma cidade semi-morta soando em seus tímpanos, um belo réquiem inexistente. Uma sinfonia que lhe agradava, lhe acalmava. Fazia deixar de lado todas as guerras, pobrezas, fomes, hipocrisias, problemas, vergonhas... Enfim, tudo. A cada passo que dava, seu ego inflava-se de auto-confiança e prepotência. Era o dono do mundo naqueles breve instantes. Seguiu com mais ânimo rumo à sua casa.
O relógio público marcava exatamente 01:16 e ele nem se importava com isso. "O relógio só existe para os compromissos" divagava ele. Nada de relevante. Somente lhe importava a liberdade que sentia, a realidade que podia agarrar em suas mãos, todo o tempo que lhe fora concedido para viver sem objeções. Mesmo que falhas, em seu todo.
Nosso personagem sabia, mais do que qualquer outro, que a felicidade não existe, que o paraíso é uma mentira. Mas não custava aproveitar os momentos de esquecimento e empolgação.
De súbito, surgiu em sua frente uma moça comum, típica de uma noite fria, andando em passos inseguros e incertos rumo ao nada. Passos contínuos e meio que apressados ecoando junto aos seus tornando disso tudo uma ode à solidão.
"Garota bonita" pensou Joseph sentindo seu leve e doce perfume exalando de seu pescoço coberto pela lã. Odor que desapareceu em alguns instantes.
-A noite nunca morre, apenas dorme - sussurrou com um sorriso no rosto, com um sorriso de indescritível euforia. -Quem não há de adora-la?
Prosseguiu vitorioso. Rumo ao universo de seus sonhos.
A nossa, invariável, felicidade certeira.

Alguns instantes depois, começou a atacar-lhe o sono, o terrível vilão da consciência e, consecutivamente, uma vontade inexorável de chegar logo em sua casa e descansar. Aproveitar que não sofria de insônia e velejar , mergulhar o mais profundo possível em seu sub-consciente em um coma voluntário e acordar repentinamente com um despertador histérico que ele tanto detestava, pronto pra tudo e todos, o mundo inteiro. O que o animava é que já estava a 2 blocos de sua moradia que tanto ansiava, quase no fim da avenida.
No momento em que estava na parte final daquele quarteirão, em frente a um banco municipal, uma viatura policial estacionou de súbito perto dele e finalizou por parar bem perto de onde ele estava. Dentro dela, saíram quatro policiais armados não de 9mm como de costume, mas sim de fuzis de porte militar, correndo em direção ao portão entreaberto do banco onde Joseph encontrava-se naquele instante. Correndo alucinadamente, como que em busca de sangue de sua infeliz presa. Prontos para matar e morrer em sua própria honra e seus princípios.
Ao ver as armas, os políciais, seus olhares amedrontadores, Joseph sentiu de leve um calafrio percorrer a espinha e o coração gelar. Um terror absurdamente imenso mixado com o medo.
Viu tudo que poderia ver a sua vida inteira, as viseiras lhe foram arrancadas em um puxão só. Absolutamente tudo. O sono, a auto-confiança, a prepotência, a euforia, sua existência toda desvaneceu-se num piscar de olhos. Somente refletia em seu globo ocular aquele instante, os passos apressados e silenciados pelos coturnos.
Pensou no que fazer, a sua inteligência de que todos admiravam poderia salvar-lhe daquela aflição. Ficar e enfrentar. Inventar o que falar. Agir friamente. Andar como se nada tivesse acontecido ou ocorrido. Mas, cara a cara com o desespero tudo é em vão.
Correu
Correu
Correu
Correu desesperadamente sem rumo para qualquer lugar, longe.
Correu e se perdeu.
Afugentou-se por entre latas de lixo, próximas a um córrego... Silêncio... Joseph esperou para ver se algo aconteceria. Exceto o vento soprando não ocorreu nada de anormal.
Estava só.
Completamente só

Fechou os olhos e respirou profundamente em busca de uma saída, não só naquele lugar, mas de tudo que lhe passava na mente. Mordeu os lábios e gritou, urrou em um silêncio bizarro que acordou completamente a vizinhança. Acocorou-se e pôs as mãos sobre a cabeça, ainda suspirando e procurando acalmar-se, de alguma forma. Procurou em absolutamente tudo, um refugio de todas as assombrações de seu ser. Quando começou a achar tudo mais calmo, capaz de seguir adiante, prosseguiu.
-Abracadabra -Disse ele abrindo os olhos.
Os becos escuros ainda eram amedrontadores mas ele já não sentia mais medo, somente angústia. Levantou-se vagarosamente e pôs-se a andar rumo onde estivera e conseguir achar a sua casa. Notou nesse percurso que estava COMPLETAMENTE perdido. Tal susto o fizera correr de uma forma tão bestial que não deu por si onde estava até que notou: Estava só, e na escuridão da noite que ele tanto adora.
Como voltar?
Siga a Luz inexistente!
Andou por alguns becos imundos e iguaizinhos todos. Cansou-se de sua peregrinação infrutífera e largou-se no chão pela exaustão físico-mental.
-Merda -Disse e esmurrou o chão no qual estava jogado.
Fitou a parece e lhe parece que havia um rosto feminino nela, um rosto tímido e de feições delicadas. Rosto que apesar de bem humano, ainda era uma parede. Achou tão idiota a visão que começou a rir de si mesmo, tanto para descontrair como para ocultar o temos que sentia;
Ilusão somente
Uma ilusão tão horrível que era realidade
Aquele rosto, ornamentado de concreto maciço, com as feições mais delicadas que poderia esperar-se de um objeto inanimado continuou fincado ali mesmo, dormindo confortavelmente. Joseph não acreditava no que estava diante de si. Num súbito, o olho direito daquela "Escultura" abriu-se e a íris daquela singularidade começou a apontar pra Joseph. Não era somente seus contornos que eram belos, seus olhos também eram.
Difícil de crer, para ele, que aquele rosto imenso, quase do seu tamanho, e que o fitava tão pesarosamente era a sua prima. Prima que ele amou, seja num sentido, seja noutro. Aqueles olhos eram inigualáveis.
Conforme a boca começou a, lentamente, mover-se tentando dizer algo a Joseph, ele começou a tremer e suar frio e não quis esperar ela terminar a palavra pra começar a Correr, correr e correr rumo à sua salvação naquele "Beco de assombrações".
De soslaio, ele via pedaços de brinquedos destruídos (carrinhos de ferrari, soldados), pedaços de pano, corpos humanos, objetos utilizados também de forma letal, etc. Mas o que mais o impressionou fora ver uma pequena existência branca e felpuda mexendo-se nos mais mínimos detalhes. Algo que não era abstrato e sim real. Aproximou-se com o máximo de cuidado até que aquilo olhou assustado para ele.
Um gato.

-Zigzo... -Sussurrou da forma mais melancólica possível e caiu de joelhos perto do felino que, até aquele ponto, não tinha notado a presença de Joseph, porém o barulho que seus ossos fizeram ao ajoelhar-se fizeram a atenção do gato voltar-se a ele. No mesmo instante, o rabo de gasto ficou em forma de haste, e seus pelo arrepiados, afastando-se vagarosamente daquele homem, já com olheiras absurdas e arfando violentamente com um misto de cansaço e tristeza. -Zigzo!! -Repetiu Joseph e deu um pequeno movimento em direção ao felino que já foi o bastante para fazê-lo correr impassível e entrar no meio da escuridão.
Aquela perda súbita, não só do bichano, mas também de suas mais distintas lembranças o puseram em modo de alerta e saiu em disparada atrás do gato.
Mesmo que tentasse desviar qualquer coisa que viesse a sua mente, foi lhe inegável vir a tona suas memórias com o Zigzo, sua risada alegre e infantil e os miados de temor do gato. O esporte preferido dele era fazer testes com o gato: jogá-lo, espetá-lo e, acima de tudo, assustá-lo. Assustava-o constantemente. Óbvio que não era deliberadamente, era somente uma criança na época. Mas quem dizia que nos males infantis, nós nos damos conta?
Arrependimento, pode-se dizer, impulsionaram-no em buscar uma de suas memórias mais preciosas e mais saudosas.

De súbito, as latas de lixo viraram cortinas, os muros tornaram-se tábuas repletas de pichações e vestígios de chicletes. Abaixo de Joseph, onde ele tropeçou, havia um vaso de cristal. Não era delicado como vidro, e sim firme como uma rocha. Olhou para a sua esquerda, em um desvio que aquele beco fazia, e vira uma árvore em chamas.
Levantou-se, desesperadamente e continuou a correr. Sem parar, puxou de dentro de sua jaqueta um cigarro meio amassado, acendeu-o e continuou a correr, ainda com mais ânimo.
Enquanto escorraçava pelos caminho estreito e escuro, olhava absolutamente tudo, sentia-se perdido no mais cruel purgatório. A sua vida. As sombras engolfavam tudo a seu redor, sem deixar vestígio de quaisquer esperanças.
Pouco a frente, viu uma frágil luz e achou que estava próximo do fim de todo o tormento. Viu, não muito distante, Zigzo correndo graciosamente em direção àquela luz. Impressionou-se com o fato de correr de modo tão veloz quanto ele, mas isso somente o animou e deu mais forças de continuar a correr.
Ao sair daquela escuridão aparentemente infindável, viu o que queria deixar mais distante de tudo. Avistou seus parentes sorrindo sorrisos amarelos, amigos de sua infância que tanto detestava rindo com a mais amarga hipocrisia, inimigos estalando os dedos constantemente, tentando mostrar força e provocar medo, pessoas que nunca vira olhando-o de forma desconfiada e interrogativa. Todos os olhares inexpressívos, o que os tornavam ainda mais aterradores, era como se pudesse perder-se naqueles olhos sem fim. Aquilo tudo, mesmo que próximo, era distante, via tudo como que de forma garrafal. Ainda correndo, cerrou os olhos para esconder-se dos olhares críticos e vazios que o fitavam até sentir o chão oscilando sob seus pés. Chispou com mais anseio até finalmente chegar do outro lado e... Surpresa!
Mais uma selva de tijolos, cipós de panos e árvores de concreto.

Ficou feliz e aliviado por estar distante de tudo e triste por lembrar de quem era, toda aquela "arrogância" que ele demonstrara até certo tempo atrás agora lhe era inútil.
Ainda percorrendo rapidamente (o que também o deixou assustado, não sabia que tinha todo esse fôlego, era uma energia inesgotável que jorrava dele) avistou o gato indo mais devagar, parecia estar cansado. Esta oportunidade de alcançá-lo o fez correr mais rápido. Como se ele mesmo tivesse drogado-se com a esperança.
Enquanto seguia, rumo ao Zigzo, viu algumas lojas no meio da escuridão : Bares, bordéis, fliperamas, lanchonetes, escolas, bancos, vitrines com manequins vivos, açougues e um sem número de coisas.
Um pouco mais a frente viu dezenas de "Josephs" em diferentes jeitos, trajes, maneiras e aparencias.
Notou agora. Como o Flash de uma foto percebeu o que se passava.
Culpava a polícia pela sua imprudência, por ter-lhe causado pânico, mas na verdade ele era o culpado.
Ele era o culpado!
O astucioso ladrão que fugira no último instante de tudo e todos, principalmente de si mesmo. Porém, diferente da realidade, a verdade caiu sobre ele, tudo de sua vida, tudo que ele não havia ainda compreendido esteve a seu lado, a sua frente e atrás, abaixo e dentro de si. Ele era culpado. Assassino de si mesmo. E somente lhe havia um álibi, o auto-perdão.
Poderia, de tudo que ele vira e lembrara-se, perdoar ainda? A vida realmente, em cada um de nós em sua devida intensidade, é algo cruel. No todo, mesmo que vivamos anos e anos a fio, não sabemos o que é viver. Somente achamos que sabemos de algo, sendo que a verdade que julgamos não existe. Nossa verdade, nossa, nossa e nada mais.
No fim do beco, já exausto, o gato parou repentinamente, em cima de uma lata de lixo e fitou Joseph desafiadoramente:
-Trick or treat? Verdade ou mentira? Perdão ou sentença?
Joseph deu um pulo como se saltasse por sobre um mar de lava e agarrou o gato de forma delicada ou toque, porém violenta aos gestos. Caiu no chão junto ao Zigzo.
-BU!! -Gritou fazendo uma careta pro gato que o fitava indiferentemente. Segurando-o da forma mais delicada possível, o abraçou sem o machucar e desfez-se em lágrimas, era agora somente um adulto com alma de criança, chorando o que perdeu, o que fizera de mal. A culpa. A nostalgia. -Desculpe-me! -Encolheu-se com o Zigzo em seu colo e com os olhos fechados.
Tudo não lhe parecia amedrontador, mas sim familiar, era a sua vida.

Olhou para seus braços e vira que estava a agarrar um saco de lixo fedendo a pura carniça. Largou-o gentilmente e limpou as lágrimas abundantes dos seus olhos com os punhos. Ergueu a cabeça e vira a casa logo a sua frente.
Ignorou a porta branca que ostentava o numero 63. Aquilo não importava. Uma vez que estava vivo, queria viver. Escalou pela parede por pequenos fragmentos que haviam nela até alcançar a janela de seu quarto e entrar por ela.
Pela janela fechada, viu absolutamente nada exceto a noite.
De súbito, caiu de costas no chão e começou a gemer e chorar descontroladamente até, depois de meio tempo, adormecer em forma fetal.
Dormira como uma criança que havia se tornado, agradecendo seu passado e sonhando com o futuro
01:18, marcava o relógio.








Ouvindo: Enmurée - Shinjitsu no Ame

'Introdução'?

Como bem estão notando, esse blog tem a finalidade de reunir alguns 'Ilustres Escritores Fracassados' e expor o que se passa na mente de cada um. Sem ter que se importar com um pensamento alheio ou com qualquer outra coisa que o valha. A intenção é simplesmente deixar fluir os sentimentos.
Eu sempre fui horrível para introduções, apresentações como que quiser que chamem. A nossa única intenção é simplesmente escrever. Levando em consideração que grande parte das pessoas nunca leu alguma coisa, exceto livros de mensagens de boa sorte e coisas do gênero, queremos somente mostrar do que somos capazes. Já que provavelmente nenhum de nós nos tornemos ILUSTRES, por hora, permaneceremos como os "Ilustres Escritores Fracassados". Trazendo-vos estórias e poemas o máximo que nos for possível!
Espero sinceramente, assim como nossos membros, que gostem do que lerão e que deixem vossa opinião. Eu, como criador deste blog, citarei a primeira estória e depois cada um faz suas devidas aprensentações (creio eu, melhor que a minha, mas depois faço uma melhor).
Por ora, That's All.